Brasil triplica registro de armas novas durante o governo Bolsonaro
Já o número de armas apreendidas caiu de 8.216 em 2018 para menos de 3 mil este ano.
Nos três primeiros anos do governo Bolsonaro (2019 a 2021), o registro de armas de fogo pela Polícia Federal mais do que triplicou em relação aos três anos anteriores (2016 a 2018). Desde o início do mandato do ex-capitão, foi registrada uma média anual de 153 mil armas novas, aumento de 225% em relação ao triênio anterior, quando a média anual foi de 47.141. Os números de dezembro ainda não foram fechados, o que poderá elevar ainda mais o percentual de crescimento. Só este ano, entre janeiro e novembro, houve 188 mil registros de armas novas, sendo 143 mil — ou 76% do total — sob responsabilidade de cidadãos comuns. O país deve fechar 2021 com um estoque de mais de 2,2 milhões de armas em arsenais particulares.
O registro de porte de armas pela Polícia Federal também cresceu 50%, comparando-se os três anos de gestão Bolsonaro com os três anos anteriores. Foram emitidos em média 10.627 portes de armas entre 2019 e 2021, contra uma média de 7.043 entre 2016 e 2018. A diferença pode ser maior já que os dados disponíveis consideram portes emitidos até 8 de outubro deste ano. De novo, destaca-se a expansão de registros por partes de cidadãos comuns, que alegam a necessidade de “defesa pessoal”.
O presidente Jair Bolsonaro, que milita abertamente pelo armamento da população, comemora os resultados. No último dia 26, ele comentou em suas redes sociais uma notícia sobre o aumento do número de armas em poder de civis no Brasil e fez um paralelo com uma suposta redução da criminalidade. “Desde quando assumimos, todos os índices de homicídios, estupros, latrocínios, roubo de veículos e cargas, invasão de fazendas, entre outros, caíram”. Não é bem assim. O número de mortes violentas, que tinha caído no início da pandemia, voltou a aumentar em 2020, com crescimento de 4% em relação a 2019, conforme divulgou, em julho, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rafael Alcadipani, professor da FGV e PHD pela Manchester Business School, considera “um erro brutal” a política armamentista de Bolsonaro. “Infelizmente é uma política pública baseada em achismo, que não encontra respaldo em nenhuma evidência científica. O aumento do número de armas deve aumentar o número de homicídios e de acidentes envolvendo crianças com arma de fogo em casa”, diz Alcadipani. Ele alerta que mais de 80% das armas em poder dos criminosos no Brasil são armas que já foram legais algum dia. Ou seja: o bandido rouba de quem comprou a arma legalmente para cometer crimes. “A arma é um bom elemento de ataque, não de defesa. Há policiais bem treinados do Bope e da Rota que acabam sendo vítimas de criminosos, em função do elemento surpresa”, declara Alcadipani.
O fórum divulgou em julho que no final de 2020 o país já contava com mais de 2 milhões de armas em arsenais particulares, distribuídas entre cidadãos comuns, atiradores esportivos, caçadores e colecionadores, além de policiais e demais profissionais da segurança pública e militares do Exército. Segundo o fórum, há pelo menos uma arma particular disponível para cada grupo de 100 brasileiros. “Os números mostram que uma parcela da população atendeu ao chamado do presidente da República aumentando o arsenal civil com a aquisição de armas novas”, registrou o relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que criticou no mesmo documento os “arroubos normativos irresponsáveis do presidente da República e o silencia sepulcral do Congresso Nacional”.
Além de flexibilizar a legislação para o uso de armas no país, o presidente Bolsonaro tem repetidamente incentivado o uso de armamentos pela população civil. Em agosto, durante conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, o presidente voltou a defender o acesso a armas pesadas. “Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. Povo armado jamais será escravizado. Eu sei que custa caro. Aí tem um idiota: Ah, tem que comprar é feijão. Cara, se você não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar”, disse Bolsonaro.
Enquanto cresce vertiginosamente o número de armas nas mãos da população, cai a cada dia a apreensão de armamentos. Em 2018, último ano do governo Michel Temer, foram apreendidas 8.216 armas no país. No primeiro ano da gestão Bolsonaro, em 2019, foram 6.051. Em 2020, 4.084. Os números deste ano ainda não foram fechados, mas o último balanço da PF registra 2.714 armas apreendidas.
EVOLUÇÃO DO REGISTRO DE ARMAS NOVAS:
ANO ARMAS NOVAS
2021 – 188.805
2020 – 177.782
2019 – 94.064
2018 – 51.027
2017 – 45.485
2016 – 44.912
Fonte: DPF
* Os dados de 2021 foram computados até novembro