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As novas denúncias contra padres acusados de pedofilia no interior de SP

Aumenta a relação de pessoas que acusam o pároco Pedro Leandro Ricardo, e a polícia começa a investigar outros dois religiosos citados em reportagem de VEJA

Por João Batista Jr. Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h23 - Publicado em 19 jul 2019, 06h30

Durante quase duas décadas, um dos maiores escândalos da Igreja Católica no Brasil ficou abafado. Ele envolve acusações graves a respeito do comportamento do padre Pedro Leandro Ricardo, suspeito de abuso de menores na cidade de Araras, no interior de São Paulo. Aproveitando-se de sua posição de líder religioso, o clérigo teria atacado seminaristas e coroinhas, em alguns casos, na própria sacristia. Na reportagem de capa da última edição de VEJA, seis vítimas falaram pela primeira vez sobre seus dramas. Essa história aterradora começou a sair das sombras em dezembro de 2018, quando a advogada Talitha Camargo da Fonseca e o produtor audiovisual José Eduardo Milani encaminharam um dossiê ao Vaticano. O padre acabou afastado e o bispo responsável pela diocese, dom Vilson Dias de Oliveira, renunciou ao cargo em maio. Ele é acusado de acobertar os crimes de Leandro Ricardo e de outros dois sacerdotes da região: Carlos Alberto da Rocha e Felipe Negro. Em troca do silêncio, de acordo com a denúncia, cobrava propinas dos párocos. As vítimas do padre Leandro foram ouvidas pela Polícia Civil em junho. O bispo Vilson é investigado por extorsão, enriquecimento ilícito e acobertamento dos casos de abuso sexual.

Depois da reportagem de VEJA, um novo inquérito foi aberto para apurar as denúncias que envolvem os clérigos Carlos Alberto da Rocha e Felipe Negro. “Espero que a Justiça comum, e não apenas a canônica, investigue e puna os autores dos crimes”, afirma Talitha Camargo da Fonseca. O advogado Roberto Tardelli passou a atuar como assistente de acusação. Na época em que trabalhava como procurador, cuidou do caso de Suzane von Richthofen, condenada a 39 anos e seis meses de prisão pelo assassinato brutal de seus pais. Tardelli pleiteia uma indenização de 2 milhões de reais para cada vítima. “Temos de reparar vidas devastadas”, justifica.

Stella e Camila
JUSTIÇA – Stella e Camila, que também acusam o pároco: advogados querem indenização de 2 milhões de reais por vítima (Antonio Milena/VEJA)

Todos os suspeitos negam os crimes. Carlos Alberto reuniu recentemente ministros da eucaristia para se defender. O padre Diego Rodrigo, citado por testemunhas como namorado de Leandro Ricardo, pediu por WhatsApp orações contra o que ele chama de “blasfêmia”. Em conversas privadas, alguns religiosos da região comemoram o fato de os casos estarem vindo à tona. Após tempos de acobertamento por parte da Igreja, vislumbram no escândalo uma oportunidade de a instituição fazer uma faxina em sua banda podre.

A reportagem de VEJA também encorajou novas denúncias. Morador de Pirassununga, outra cidade do interior paulista, V.A., hoje com 40 anos e pai de dois filhos, contou ter sido abusado por Leandro Ricardo. “Quando eu cursava seminário e tinha 18 anos, o padre Leandro me abraçava e pegava no meu pênis durante a confissão”, lembra. Certa vez, o jovem chegou a desferir um soco no sacerdote para se desvencilhar de um ataque. “Ele me encurralou contra a parede, e tive de fazer isso para escapar”, explica. V.A. é a sétima vítima do padre disposta a prestar depoimento à polícia e ao Tribunal Eclesiástico.

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A biomédica Camila Juliana Jacinto está na relação das pessoas que já formalizaram denúncia contra o pároco. Ela tinha 14 anos quando sofreu o abuso. “Ele alisou minha vagina e me abraçou, encostando o pênis no meu corpo em algumas ocasiões”, diz Camila, hoje com 31 anos. A garota resistiu a esse e outros ataques. Acabou expulsa da igreja. “Leandro também tinha ciúme da minha amizade com seu namorado, o padre Diego.” A técnica administrativa Stella Kirstein Bezerra ainda não se reconhecia transexual quando, aos 13 anos, o padre Lean­dro tentou tirar a calça dela na sacristia, depois de passar a mão sobre seu corpo. “Durante um tempo, fiquei com nojo de mim”, conta. Agora, finalmente, há uma chance real de esses abusos serem punidos pela Justiça.

Publicado em VEJA de 24 de julho de 2019, edição nº 2644

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