Após incêndio, Ponte do Jaguaré em São Paulo continua interditada
Local estava em lista de 2007 sobre 73 viadutos e pontes que precisavam de laudo estrutural

A Ponte do Jaguaré, na Marginal do Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo, permanece interditada nos dois sentidos nesta segunda-feira, 24, após um incêndio ter atingido nesta sexta-feira 21 a parte inferior da estrutura. Uma vistoria contratada em caráter emergencial vai definir se a estrutura poderá ser reaberta. Atualmente, a ponte está liberada somente para uso por pedestres e ciclistas.
A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras deve receber nesta segunda os resultados dos testes realizados no concreto e nas ferragens, para que os engenheiros possam avaliar os danos causados pelo incêndio. A retirada de blocos de concreto e placas de aço começou na manhã de sábado e prosseguiu no domingo. Serão avaliados 46 blocos de concreto e 26 barras de aço.
De acordo com a Prefeitura municipal, a alternativa mais próxima para cruzar o rio é pela Ponte Cidade Universitária, para chegar à região do Jaguaré e Butantã. Para os motoristas no sentido Lapa, o desvio é pela Marginal Pinheiros, sentido Interlagos. Treze linhas de ônibus com o itinerário que inclui a Ponte do Jaguaré continuam com o percurso alterado.
O local constava na lista, de 2007, de 73 viadutos e pontes que precisavam de laudo estrutural. A relação de obras com problemas fazia parte do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre Município e Ministério Público Estadual (MPE) para reparos de pontes. Segundo o prefeito Bruno Covas (PSDB), vistoria feita em fevereiro não indicou a necessidade emergencial de obras ou indícios de risco de incêndio.
Desde que um viaduto cedeu perto do Parque Villa-Lobos, em novembro, a prefeitura tem corrido para contratar vistorias e fazer reparos. Relatório de 2017 do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva apontou que dezenas de viadutos e pontes têm problemas, como fissuras e infiltrações. Em março, o MPE propôs ação na Justiça para limitar o acesso às áreas com risco.
O prefeito chegou a agendar vistoria no local no sábado, mas desmarcou alegando questão de segurança. Segundo a prefeitura, os 103 abrigos municipais estão disponíveis para os desabrigados, mas eles preferiram as casas de amigos ou parentes. Foram entregues colchões, cobertores, kits de higiene e cestas básicas. Todos, disse Covas, serão incluídos no auxílio-aluguel de 400 reais.
Segundo a Defesa Civil, barracos de madeira de 215 pessoas foram danificados e não houve vítimas. O local do incêndio nesta sexta, no sentido Interlagos, fica perto da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). A pista local foi bloqueada e seria liberada à noite após limpeza. A pista expressa operou normalmente ao longo do dia.
As autoridades apuram a origem do fogo. O socorro foi acionado às 6 horas de sexta-feira 21. “Quando chegamos, havia gente tentando tirar pertences, mas ninguém estava no ponto principal (do incêndio)”, disse o capitão dos Bombeiros Marcos Nogueira. Às 8 horas, as chamas foram controladas e era possível ver madeiras e veículos antigos na área do incêndio. Denúncias apontam que o local é de descarte irregular de lixo.
Com a filha de três meses no colo, o borracheiro Maurício Cavalcante, de 41 anos, foi avisado pelo primo sobre o fogo. A mulher dele, Diana Cristina, de 30 anos, também saiu correndo. “Peguei a bolsa da minha filha, mas perdemos tudo. Só sinto por não ter pegado as fraldas dela. Tinha uns dez pacotes.”
À tarde, moradores se recusavam a sair da área. “Há dois anos aconteceu um incêndio igual a esse. Vieram aqui, prometeram aluguel social, mas nada foi resolvido. Só sairemos quando o prefeito vier falar com a gente. Do contrário, fechamos a marginal”, disse o morador Alexandre Pacheco, 46 anos. A ocupação sob a ponte existe há mais de dez anos.
(com Estadão Conteúdo)