Amigo de Carlos, diretor-geral da Abin é cotado para comandar PF
Alexandre Ramagem tem o aval do filho de Bolsonaro, investigado por ataques virtuais a autoridades e propagação de fake news
O diretor-geral da Agência Nacional Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, é o mais cotado para assumir o comando da Polícia Federal. Chefe da segurança do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na campanha eleitoral de 2018, Ramagem tem a confiança do clã presidencial, principalmente do filho Zero Dois, o vereador pelo Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (Republicanos), de quem é amigo. A troca pelo ex-diretor-geral da PF Maurício Valeixo, exigida por Bolsonaro, foi a gota d’água para o pedido de demissão do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que era contra a mudança.
No bastidores, Carlos Bolsonaro comemorou a saída de Sergio Moro. O vereador era um dos principais entusiastas pela queda do ex-ministro. Carlos já articulava a substituição de Moro sob o argumento de que o ex-juiz da Lava-Jato não teria se mobilizado suficientemente para descobrir o suposto mandante do atentado a facada contra seu pai, em Juiz de Fora (MG). A alegação foi defendida pelo próprio Bolsonaro durante seu pronunciamento na última sexta-feira.
Como VEJA revelou, no entanto, interlocutores de Sergio Moro contaram que o ex-ministro da Justiça não concordou com Jair Bolsonaro de pedir interferência em uma investigação relacionada à participação de Carlos. O presidente queria que a Polícia Federal e o ex-ministro da Justiça dessem um jeito de segurar o caso que aponta para a participação do vereador em um esquema de ataques virtuais a autoridades e propagação de fake news. O inquérito tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).
Alexandre Ramagem tem também o aval do senador Flavio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), os outros filhos do presidente com mandatos. Ramagem ingressou na PF em 2005. Ele atuou ainda na coordenação de grandes eventos, como a Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016, além da Conferência das Nações Unidas Rio + 20, em 2012, e a Copa das Confederações, no ano seguinte. No governo Bolsonaro, Alexandre Ramagem foi assessor especial do ex-ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto Santos Cruz, que deixou a pasta após ataques de Carlos. Fiel à família Bolsonaro, Ramagem, então, manteve-se no cargo.
Na noite deste sábado 25, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) republicou em suas redes sociais uma foto de Carlos Bolsonaro e Alexandre Ramagem que estava publicada na conta do vereador do Rio. Lado a lado na imagem, Carlos e Alexandre passaram juntos o réveillon de 2019, dias antes da posse de Jair Bolsonaro em Brasília.
A queda de Mandetta
Carlos Bolsonaro também teve papel fundamental na crise entre o pai e o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. O filho Zero Dois foi o primeiro a acusar Mandetta de uso do cargo para promoção pessoal. A favor da demissão do ex-ministro, Carlos, nos bastidores, organizou ações orquestradas na internet para ajudar a fritá-lo no chamado “gabinete do ódio”, segundo apurou VEJA.
O vereador do Rio tem como braço-direito o primo Leonardo Rodrigues de Jesus, conhecido como Léo Índio. Nomeado no gabinete do senador Francisco Rodrigues (DEM-RR) com um salário bruto de 22,9 mil reais, Léo atuou no início do governo como uma espécie de “espião voluntário” com o objetivo de fabricar dossiês informais para identificar “infiltrados comunistas” na máquina federal.
Carlos Bolsonaro e Léo Índio se encontraram pelo menos uma vez para tratar do futuro de Mandetta na pasta da Saúde. A reunião ocorreu no último dia 4, em Brasília. O vereador trata o primo como um “porta-voz” de seus atos. Enquanto Carlos cria conteúdo de mensagens de textos contra inimigos políticos de Bolsonaro, Léo as distribuiu à militância bolsonarista para que o material seja disseminado nas redes sociais e em sites simpatizantes do governo.
Antes da nomeação no Senado, Léo Índio ficou conhecido pelo livre trânsito que tem no Planalto e por sua proximidade com Carlos Bolsonaro. O sobrinho do presidente, no entanto, nunca assumiu um cargo no governo federal. Mesmo assim, era comum vê-lo em reuniões internas e agendas externas de Jair Bolsonaro. O assessor parlamentar já até viajou na comitiva da Presidência que foi ao local da tragédia de Brumadinho.
Os ataques virtuais contra o ex-ministro da Saúde têm o mesmo modus operandi a outros adversários de Bolsonaro. Além de Mandetta, o alvo preferencial é o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Em 25 de março, durante uma reunião por videoconferência sobre coronavírus, o tucano e o presidente trocaram acusações sobre medidas adotadas de combate à doença.