Além de Vinicius Drumond, outros bicheiros foram alvos de atentados no Rio; veja lista
Maioria dos crimes aconteceu na Barra da Tijuca; histórico violento tem ligações familiares e disputas pela contravenção

O atentado sofrido nesta quinta-feira pelo contraventor Vinicius Drumond, na Barra da Tijuca, reacende um histórico de violência que atravessa gerações da cúpula do jogo do bicho no Rio de Janeiro. Filho do lendário bicheiro Luizinho Drumond, ex-patrono da Imperatriz Leopoldinense, Vinicius foi surpreendido por criminosos armados em plena Avenida das Américas. O Porsche blindado em que ele estava foi metralhado, mas ele saiu praticamente ileso, com ferimentos leves causados por estilhaços de vidro.
O episódio não é isolado. Desde os anos 1990, a alta cúpula do bicho no estado acumula atentados cinematográficos — alguns frustrados, outros fatais. A seguir, relembre os principais episódios que marcaram a guerra pelo controle da contravenção carioca.
Os que escaparam
- Rogério Andrade

Um dos membros da chamada Nova Cúpula do Jogo do Bicho, Rogério Andrade é sobrinho de Castor de Andrade, um dos grandes capos da contravenção carioca, ligado à escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel — outra herança deixada pelo tio.
Desde 2001, ele foi alvo de pelo menos três atentados. Naquele ano, foi vítima de uma tentativa de homicídio em um hotel também na Barra da Tijuca. Sobreviveu por pouco, já que a arma que seria usada para a execução falhou.
Nove anos depois, em 2010, uma nova investida contra ele teve fim trágico: uma bomba instalada em seu carro, um Corolla blindado, explodiu enquanto ele passava pela Avenida das Américas, na altura do bairro do Recreio. No veículo, Rogério estava com seu filho de 17 anos, que morreu na hora. O bicheiro sobreviveu, mas teve seu rosto desfigurado e precisou reconstituí-lo com cirurgias plásticas.
Mais recentemente, em 2017, uma novo ataque foi feito contra o contraventor. Rogério e sua esposa, Fabíola Andrade, foram alvos de tiros em um condomínio também na Barra da Tijuca, onde moram. Ela foi ferida, mas ambos sobreviveram.
- Shanna Harrouche Garcia Lopes

Filha do bicheiro Waldomiro Paes Garcia, conhecido como “Maninho”, Shanna Garcia passou a se envolver com os negócios da família após a morte do pai, em 2004. Naquele momento, no entanto, a disputa pelo seu espólio foi motivo de uma sangrenta disputa.
Também na Avenida das Américas, Shanna foi baleada em 2019, mas sobreviveu. Na ocasião, ela estava em seu carro na porta de um salão, em um shopping na altura do bairro do Recreio, às margens da via.
Os que morreram
- Paulo Roberto Andrade
Filho de Castor de Andrade, “Paulinho”, como era conhecido, foi executado em 1998 com dez tiros dentro de seu carro. O ataque, mais uma vez, aconteceu enquanto ele trafegava pela Avenida das Américas, na Barra da Tijuca.
Na época, a suspeita de motivação para o crime se deu em torno da disputa pelo espólio de Castor de Andrade. Paulinho disputava a herança familiar na contravenção — composta tanto pelo domínio territorial no jogo do bicho, quanto pela influência do posto — com seu primo, Rogério Andrade.
- Fernando Iggnácio

Outro personagem morto em meio às disputas da família Andrade, Fernando Iggnácio era genro de Castor de Andrade e despontava como um dos favoritos para ser seu sucessor.
Ele foi morto em novembro de 2020, em uma emboscada no estacionamento de um heliponto no Recreio dos Bandeirantes. Acusado como mandante do crime, Rogério Andrade foi preso após denúncia do Ministério Público do Rio.
- Alcebíades Paes Garcia

Irmão de Maninho, Alcebíades Paes Garcia, o “Bid”, foi executado em 2020 na porta do condomínio onde morava, na Barra da Tijuca. Ele voltava da última noite de desfiles do carnaval daquele ano na Marquês de Sapucaí. A van onde estava com sua mulher foi metralhada com dezenas de tiros.
Outro bicheiro, Bernardo Bello, foi acusado como “autor intelectual” do crime. Ele foi preso dois anos depois, na Colômbia. Segundo investigações do MPRJ, Bid estaria inconformado com o domínio de Bello sobre os pontos da contravenção na Zona Sul do Rio.
- Myro Garcia

Filho mais novo do bicheiro Maninho, Myro Garcia foi sequestrado e assassinado em 2017, depois de ficar dois dias em cativeiro.
Três homens foram indiciados por terem sequestrado e extorquido dinheiro da vítima, para posteriormente executá-la. Até hoje, contudo, não há certeza sobre a real motivação do crime.
- Zé Personal
José Luiz de Barros Lopes, conhecido como “Zé Personal”, era casado com Shanna Garcia e também estava envolvido na disputa pelo espólio de Maninho. Ele foi assassinado em 2011, dentro de um centro espírita na Praça Seca, Zona Oeste carioca.
As investigações apontam novamente para o envolvimento de Bernardo Bello como mandante do crime. O pistoleiro Adriano da Nóbrega, conhecido como Capitão Adriano, teria participado diretamente da execução.