A primeira-dama da Lava-Jato
Filiada ao PT, a nova namorada de Lula ganhou emprego em estatal, recebe 17 537 reais de salário e visita o ex-presidente na cadeia em horário de expediente
Às 15h20 de 9 de maio passado, quinta-feira, uma mulher vestindo saia longa com jaqueta de couro e carregando uma sacola cheia de presentes chegou à sede da Superintendência da Polícia Federal do Paraná. Era dia de visita aos presos da Operação Lava-Jato. Discreta, ela passou pela guarita, atravessou a recepção e dirigiu-se à área de emissão de passaportes, permanecendo estrategicamente distante de olhares curiosos. Vinte minutos depois, outras três pessoas se juntaram a ela. O grupo conversou por alguns minutos. A mulher então se afastou e foi até o balcão de atendimento. Lá, identificou-se como Rosângela da Silva e informou que iria visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A visita durou cerca de uma hora.
Na saída, Rosângela se juntou novamente ao grupo, que a esperava na recepção. Ela disse que estava impressionada com a aparência de Lula — “meio abatido”, “mais magro”, mas que, apesar disso, ele continuava com o senso de humor bastante afiado. E reproduziu a parte da conversa que achou engraçada. Contou ao ex-presidente que tinha muita gente perguntando como ele conseguia postar mensagens nas redes sociais de dentro da prisão, sem acesso a telefone ou internet. “Diga que do mesmo jeito que o Bolsonaro. Eu tenho um filho que eu não controlo. Se o Bolsonaro solto não controla o dele, imagina eu, preso.” Um dos homens do grupo — formado por um advogado e dois assessores do ex-presidente — tomou nota do que a mulher dissera. A frase foi reproduzida no Twitter de Lula no dia seguinte.
A socióloga “Janja Lula da Silva”, como Rosângela é conhecida e se identifica nas redes sociais, tem 52 anos, mora em Curitiba, é filiada ao PT desde a década de 80 e foi apresentada ao público por aliados do ex-presidente como sua nova namorada. Os dois já se conhecem há mais de duas décadas. Construíram, pode-se dizer assim, uma carreira bem próxima. Janja foi contratada sem processo seletivo para trabalhar no escritório da Itaipu Binacional, em Curitiba, depois da eleição do petista. Na época, a estatal tinha como diretora financeira Gleisi Hoffmann, a atual presidente do PT. A relação dos dois, porém, sempre foi muito discreta. Poucas vezes foram vistos juntos. Um dos raros registros ocorreu em novembro de 2009. Lula estava no seu segundo mandato. Janja foi a Brasília oficialmente para participar de um seminário sobre questões de gênero. Coordenadora de programas sociais da empresa, ela aproveitou a viagem para entregar um presente a Lula. Dias antes, o ex-presidente havia completado 64 anos. Lula adorou o presente.
Quando o ex-presidente deixou o Planalto, em 2011, Janja também mudou de emprego. Em 2012, ela foi cedida à Eletrobras, no Rio de Janeiro, onde trabalhou como assessora de comunicação e relações institucionais. Voltou para a Itaipu, em Curitiba, em fevereiro de 2017 (com salário de 17 537 reais) — um ano e dois meses antes de Lula ser preso. Continua na empresa até hoje (expediente das 8 às 17h30). O ex-presidente ficou viúvo em fevereiro de 2017, quando a ex-primeira-dama Marisa Letícia morreu, aos 66 anos. A socióloga visitou Lula na cadeia pela primeira vez em junho de 2018. O casal, relata um amigo, comemorou o Dia dos Namorados. Desde então, Rosângela já esteve na sede da Polícia Federal outras seis vezes. Lula estaria apaixonado e pensando em se casar depois de cumprir a pena por corrupção e lavagem de dinheiro. O ex-presidente, inclusive, brinca com a própria situação, dizendo que, desta vez, vai se “casar virgem”, já que as normas de segurança da Polícia Federal não autorizam visitas íntimas.
A inconfidência sobre a nova namorada do ex-presidente foi feita pelo ex-ministro e economista Luiz Carlos Bresser Pereira. “(Ele) está apaixonado e seu primeiro projeto ao sair da prisão é se casar”, escreveu em uma rede social na semana passada. Otimista, Lula aposta que deixará a cadeia até setembro, quando terá cumprido um sexto da pena. Os mais realistas lembram que ele responde a mais seis processos na Justiça e ainda pode ficar preso por um longo tempo. Minutos antes de Rosângela chegar à sede da Polícia Federal naquela quinta-feira de maio, o ex-presidente recebeu a visita de Fábio Luís da Silva, o Lulinha, o filho Zero Um. Na saída do prédio, Lulinha e Janja se encontraram, trocaram umas poucas palavras e se despediram. Friamente.
Publicado em VEJA de 29 de maio de 2019, edição nº 2636
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