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A delação de servidor da Saúde sobre desvio de medicamentos dos Yanomami

Funcionário disse que escondia remédios a pedido de secretária de Saúde e do marido dela, além de mencionar ter ouvido que o governador sabia de tudo

Por Ricardo Chapola
Atualizado em 29 set 2024, 18h54 - Publicado em 29 set 2024, 18h52

Acusado de integrar uma organização criminosa que desviou medicamentos que seriam destinados aos indígenas Yanomami em Roraima, um funcionário público da Secretaria de Saúde do Estado decidiu colaborar com a Polícia Federal (PF).  Em sua delação, Harisson Moraes da Silva disse que escondia e queimava remédios cumprindo ordens da chefe da pasta, Cecília Lorenzon, e do marido dela, o empresário Wilson Basso, além de citar uma conversa com a secretária na qual ela teria dito, sem entrar em detalhes, que o governador Antonio Denarium (PP) estaria “ciente de tudo”.

O servidor era dono de uma casa abandonada em Boa Vista, onde a PF encontrou, no início deste ano, pilhas de caixas e sacolas repletas de medicamentos que deveriam ter sido enviados aos indígenas do território Yanomami. No depoimento, o funcionário-colaborador disse que o empresário Wilson Basso, marido da secretária estadual de Saúde, solicitou que ele levasse os medicamentos para uma casa abandonada.

O pedido foi feito poucos meses depois de a PF cumprir um mandado de busca e apreensão na residência do empresário, para apurar a suspeita de superfaturamento na execução de contratos de fornecimento de cilindros de oxigênio, insumos hospitalares e medicamentos.

O esquema teria desviado quase 1 milhão de reais destinados à saúde dos indígenas. O funcionário contou ainda que telefonou para a secretária Cecília Lorenzon no dia em que os policiais apreenderam os remédios. Como resposta, ouviu que não era para se preocupar, “pois não era problema dela, nem dele”. O servidor acrescentou que entrou em contato novamente com a secretária após a deixar a prisão. Na ocasião, Cecília teria dito a ele, sem entrar em detalhes, que o governador conhecia o caso. 

Laranjas e lavagem de dinheiro

Uma das linhas de investigação da PF é de que o desvio de remédios era acompanhado de um esquema de lavagem de dinheiro. Dentro do caminhão usado para levar os medicamentos para a casa abandonada, os investigadores encontraram  cartões de crédito e débito em nome de “laranjas”, extratos bancários e anotações com indicações de pagamentos para a secretária, a mãe dela e o marido.

“Revela-se a provável existência de um organismo criminoso, circunstância essa que está diretamente relacionada com o crescimento da morte dos indígenas Yanomami”, diz um trecho do inquérito da PF, cujo foco é apurar, dentre outras coisas, a prática de crimes como lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva. Procurados, o governador e a secretária Lorenzon não se manifestaram.

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