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Masculinidade tóxica

Os homens precisam superar as velhas convicções de “macho”

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 14 ago 2020, 06h00

Um grupo de homens está no bar, tomando cerveja. Passa uma mulher. Eles fazem comentários em voz alta. Ou assobiam, a chamam de “gostosa”. Todos sentem-se na obrigação de participar. Não fazer parte da turma é sinal de “fraqueza”, de ser menos “macho”. A necessidade de corresponder a parâmetros de masculinidade pesa sobre os homens. A tal ponto que está surgindo a tendência, ainda pequena, de discutir esses estereótipos. Seria uma contrapartida masculina ao feminismo.

Quando foi que você ouviu pela primeira vez a expressão “seja homem”? Também já escutei, em muitas rodas masculinas, o comentário: “Aquele lá não é homem”. A frase é utilizada para se referir a quem exibe atitudes frágeis ou expõe suas emoções. Segundo o documentário The Mask You Live In (“A máscara em que você vive”), da americana Jennifer Siebel Newsom, o menino aprende que na vida deve:

– ser bom em esportes,
– ficar muito rico,
– fazer sexo com o máximo possível de mulheres.

“Quando ele depara com uma mulher que gosta de sexo, sente que existe algo de errado com ela”

Muitos garotos sofrem bullying por não serem bons jogadores de futebol. Se um deles joga mal, os outros dizem que “joga que nem mulher”. O que está sendo ensinado a esses meninos sobre as mulheres quando se usa essa frase? Tenho um conhecido minimizado na família porque é bancado pela mulher. Os parentes chegam a dizer que ele é um “gigolô”. Mas, se o homem sustenta a mulher, acham supernatural. Homem tem de ser o “provedor”. Pior ainda, para ser “macho” é preciso fazer sexo com muitas mulheres. Eu sei de casos de executivos que, em festas da empresas, são praticamente obrigados a sair com prostitutas para não ficarem mal diante dos colegas. Houve um bem-casado que, para não trair a mulher, pediu à profissional que mentisse, e passou a noite conversando com ela. A verdade é que boa parte dos homens aprende sexo por meio de filmes pornô. A imagem que eles formam da relação e da mulher, como objeto de uso, é fortíssima. Quanto a eles próprios, assim como um ator pornô, “devem” performar na cama. Há também outra forte convicção masculina, que ainda está para ser realmente derrubada: “Só homem gosta de sexo”. Quando ele depara com uma mulher que gosta, sente que existe algo de errado com ela. O mundo está mudando, eu sei. Mas ainda falta.

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Até a ministra falou que menino veste azul e menina veste rosa. É uma convenção. Mas reforça estereótipos. Se o garoto chora na escola, ele acaba sofrendo bullying e até apanha dos coleguinhas. O horrendo ditado “homem de verdade não chora” continua valendo. Desde pequeno, o menino aprende que deve mascarar a emoção, a dor, a própria fragilidade. Tudo o que é associado à mulher é demérito, como o serviço doméstico. Se alguém voltar sete gerações atrás, vai encontrar inúmeras histórias de abuso e violência, dos homens contra as mulheres, as famílias e, principalmente, contra quem é “diferente”. A masculinidade é tóxica para os próprios homens. Mas também mata as mulheres. A libertação desses parâmetros criará sujeitos mais plenos. Os homens estão começando a falar, e espero que não se calem mais.

Publicado em VEJA de 19 de agosto de 2020, edição nº 2700

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