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A xepa do Instagram

De batom a biscoito, a publicidade na internet virou uma praga

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 5 set 2021, 08h00

Eu concordo com a publicidade. Base da nossa sociedade de consumo. Digo isso para não ficar semelhante a um esquerdista dos velhos tempos para quem anunciar já era, em si, um pecado. Hoje vivemos sob a era dos influencers. E me pergunto: não há responsabilidade sobre o que eles dizem? Abro meu celular, passo por uma figura pública comendo biscoitos, dizendo que são deliciosos. É uma ação paga, claro. Mas ela comeu os biscoitos, ou só está dizendo pela graninha? Na publicidade tradicional, há um projeto que envolve inúmeras pessoas, e se exige responsabilidade. Quando alguém fura, há inclusive processos. Toda a estrutura pressiona para proteger o consumidor. Mas e os influencers?

Dizem o que querem. Não digo que sejam coisas ruins. A maioria fala de biscoitos, cosméticos, dá a dica de comidinhas… A minha pergunta é: a influencer usou aquele produto? Desfrutou a comidinha? Eu tenho um contato relativo com o mundo de influencers. Sei que ganham por ações pagas, e muitos faturam alto. Cada batom apresentado, cada unha pintada. Mas eles usam os produtos? Experimentam pelo menos? Ou só na hora de gravar?

“Os influencers ganham por ações pagas, e muitos faturam alto. Mas eles usam os produtos?”

Quando eu era pequeno, aprendi que devo ter responsabilidade sobre o que falo. Na publicidade tradicional também já vimos gente que “não bebe” fazendo propaganda de cerveja — inclusive a Sandy. Não colou. Mas no dia a dia da internet está desenfreado. Às vezes — acho pior — disfarçado. A personalidade faz uma foto descontraída e lá no canto tem o produto. Como que por acaso. Eu mesmo, confesso, já fiz post com chocolates. Sinto a consciência em paz porque sou guloso e adorava a marca. Mas exagerei dando mordidas de hipopótamo em um ovo de Páscoa. Eu comeria aquele chocolate de novo? Todos os anos. Comeria outro? Daquele jeito? Exagerei. Ou seja, a palavra tem valor. Só que esse valor passou a ser medido em preços. As pessoas ficam ricas ou pelo menos vivem bem falando de coisas que não experimentam, não conhecem. E se um produto fizer mal?

O contato dos influencers com o produto é rápido, só na hora da gravação, na maior parte das vezes. Não têm a menor ideia do que estão dizendo. Criam um mundo falso, de um cotidiano recheado de produtos que não conhecem. As pessoas que os seguem pagam a conta.

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Eu não sei dizer. Mas a gente não deveria pensar em cobrar responsabilidade social dos influencers? Tipo: que no mínimo conhecessem o produto que alardeiam? Não digo que se tenha de usar o produto todo dia, mas, antes de falar bem, não teriam de conviver com ele?

São questões novas que estão surgindo com a força do Instagram. Eu me lembro que, no passado, tudo que um jovem ator queria fazer era uma peça de teatro. Muitos não pensam mais nisso. Querem bons posts bem pagos, e com isso viver. São objetivos de vida, não tenho nada a dizer. Mas essa nova publicidade motiva um estilo de vida, de consumo rápido e crenças em testemunhos positivos.

Testemunhos nos quais as pessoas nem sabem do que estão falando.

Publicado em VEJA de 8 de setembro de 2021, edição nº 2754

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