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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Terceira via para quê?

Sem nome, sem pressa e sem projeto, a Terceira Via se perde nas intrigas e falta de praticidade

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 26 abr 2021, 09h07

O setor que mais emprega no Brasil é o de pré-candidatos para a Terceira Via, o laboratório que corre contra o tempo para criar uma alternativa a Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de outubro de 2022.

No mês passado, o balão de ensaio era a empresária Luiza Trajano, ícone do varejo e sem nenhuma experiência eleitoral. Depois veio o novato governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, de apenas 36 anos, e dois veteranos que estão na política desde a década de 80, o ex-presidente Michel Temer (80 anos) e o senador Tasso Jereissati (72). O último a aparecer foi o tíbio presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, conhecido por tentar impedir a CPI da Covid. A cada novo nome que surge fica mais latente o desespero.

A Terceira Via é uma dissidência do bolsonarismo. Seus pais fundadores são o governador João Doria (eleito na esteira do apoio do presidente), os ex-ministros Luiz Mandetta e Sergio Moro, além do hamletiado apresentador Luciano Huck, indeciso em arriscar o sucesso na TV por uma eleição. O único do grupo que chega perto dos 10% das intenções de voto é o ex-juiz Moro, mas ele virou tóxico depois de ser declarado suspeito no processo Lula.

A questão toda é: terceira via para quê? Ganha uma vacina contra Covid quem encontrar um projeto real nas dezenas de entrevistas, artigos e comunicados da turma de pré-candidatos. Ok, já entendemos que eles rejeitam o golpismo, o desastre da Covid, o negacionismo ambiental e as rachadinhas do governo Bolsonaro. Também está claro que não querem a corrupção na Petrobras, o intervencionismo estatal e as amizades bolivarianas do governo Lula. E todos parecem concordar em indicar o Armínio Fraga para ministro da Fazenda. Mas tudo isso encanta editorialista de jornal, não a dona Maria.

Nas entrevistas para os jornais, os pré-candidatos falam que não há motivo para pressa e que podem resolver por uma candidatura única até novembro, o que em tempos políticos no Brasil equivale a uns quatro séculos. Se realmente acreditam no que dizem esses políticos mostram ignorar a história eleitoral recente. A estratégia digital de Bolsonaro começou em 2015. Em junho de 2017 ele já acumulava 15% na pesquisa Datafolha e superava Lula entre os mais ricos. Em meados de 2009, a então desconhecida ministra Dilma Rousseff já estava perto dos 20% das intenções de voto. Achar que a eleição de 2022 começa em 2022 é entregar o jogo no primeiro tempo.

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Toda a indefinição da Terceira Via gira em torno das contradições do PSDB, o partido que perdeu o rumo depois de se entregar ao aventureirismo de Aécio Neves. O partido tem o nome mais óbvio para enfrentar Bolsonaro e Lula, Doria. Governador do estado mais populoso e rico do País, Doria é o responsável direto pela vacina que imuniza 8 de cada 10 brasileiros. Mas seu egocentrismo o tornou tão impopular que a elite da política prefere ser oposição ao próximo governo (qualquer que seja) do que ser situação com Doria. Recentemente, o governador mudou a sua persona nas redes socais, mas marketing não muda personalidade. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso segue sendo cabo-eleitoral de Huck, a turma de Aécio incentiva Eduardo Leite e todos torcem por Tasso, mais para impedir Doria do que construir uma candidatura.

Sem nome, sem pressa e sem projeto, a Terceira Via se perde nas intrigas e falta de praticidade. Pode terminar 2022 eleita para fazer oposição ao futuro governo.

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