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Bolsonaro foi informado do esquema de corrupção para compra de vacinas e não fez nada
Bolsonaro sabia. Aliado do governo, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) afirmou ter levado a denúncia sobre um esquema de corrupção envolvendo a compra da vacina indiana Covaxin ao próprio presidente em 20 de março, cerca de um mês após o contrato ter sido assinado. Segundo o relato do deputado, o presidente disse que levaria o caso à Polícia Federal. Nada aconteceu.
O contrato prevê pagar um preço por vacina 1000% a mais do que a oferta da própria empresa seis meses antes. Cada dose da vacina Covaxin custa aos cofres públicos 25% a mais que as vacinas da Pfizer, AstraZeneca ou Coronavac. As vacinas indianas Covaxin são representadas no Brasil pelo empresário Francisco Emerson Maximiano, amigo do presidente. O contrato superfaturado é de R$ 1,6 bilhão .
O deputado é irmão do chefe do Departamento de Logística em Saúde do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda. Foi o irmão que pediu para a Procuradoria Geral da República investigar porque o governo aceitou pagar mais por uma vacina que até aquele momento sequer havia sido aprovada pela Anvisa. “Não era só uma pressão que meu irmão recebia. Tinha indícios claros de corrupção”, disse o deputado.
O caso Covaxin desmonta a narrativa do presidente de que havia recusado as ofertas da Pfizer por preço e por falta de autorização. Ao contrário da Pfizer, que enviou mais de 80 emails para fechar o negócio, a Covaxin resolveu a compra em menos de dois meses por R$ 80 a dose. O primeiro lote da Pfizer saiu por R$58 a dose.
Não foi a primeira vez que Bolsonaro ajudou a turma da Covaxin. Em janeiro, ele mandou uma carta ao primeiro-ministro indiano para informar que a Covaxin já havia sido escolhida para o programa de imunização brasileiro, o que não era verdade. A Covaxin é fabricada pela indiana Bharat Biotech e representada no Brasil pela Precisa Medicamentos, controlada pelo empresário bolsonarista Francisco Emerson Maximiano. Ele dono de outra empresa que deu um calote de R$ 20 milhões no Ministério da Saúde em 2017, quando a pasta era dirigida pelo líder do governo Bolsonaro, Ricardo Barros.
Com o escândalo da Covaxin, a CPI da Covid vai atrás do lucros de outros empresários bolsonaristas. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária informou à CPI da Covid no Senado que, em 2020, a comercialização de ivermectina – um antiparasitário comprovadamente ineficaz contra o coronavírus – cresceu 628% em 2020 na comparação com o ano anterior. Outro remédio sem eficácia para tratar a Covid, a cloroquina, também virou uma mina de ouro com a propaganda de Bolsonaro. As vendas subiram 47% entre 2019 e 2020, passando de 1.553.878 para 2.296.693 embalagens.
O governo que prometia uma nova política chafurda em um esquema de corrupção que aproveitou o desespero das pessoas por remédios e vacinas.