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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Quem tem dez, não tem nenhum

Congestionamento de pré-candidatos da direita liberal revela falta de projeto para enfrentar Bolsonaro e Lula

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 1 nov 2021, 13h47 - Publicado em 1 nov 2021, 10h22

Não perca as contas. Já são dez os candidatos da direita-liberal que tentam conquistar os votos dos que não querem nem Bolsonaro, nem Lula e ainda rejeitam a opção Ciro Gomes: os governadores João Doria e Eduardo Leite e o ex-prefeito Arthur Virgílio, pelo PSDB; o ex-juiz Sergio Moro, pelo Podemos; o presidente do Senado Rodrigo Pacheco, pelo PSD; Luiz Henrique Mandetta e José Luiz Datena (União Brasil); Luiz Felipe D’Ávila (Novo); Alessandro Vieira (Cidadania); e Simone Tebet (MDB). A maioria desses pré-candidatos pontua entre 1% e 3% nas pesquisas e se lançou apenas por vaidade, mas o fato é que quem tem dez, não tem nada. A candidatura de centro hoje é uma ficção.

Por ter sido o partido que amalgamou o antipetismo por vinte anos, o PSDB teria em tese a primazia de lançar o candidato único do Nem-Nem, mas as prévias marcadas para o final de novembro prenunciam um resultado amargo, seja quem for o vencedor. Na sexta-feira (29/10), a direção nacional do PSDB suspendeu o voto de 92 prefeitos do Estado de São Paulo que teriam se filiado depois do prazo, decisão que prejudica diretamente a candidatura Doria. Pelas regras da prévia, só esses prefeitos representariam quase 3% do eleitorado total. Numa disputada apertada, pode ser decisivo.

Embora seja inútil tentar antecipar os resultados das previas, a cúpula do PSDB trabalha com Eduardo Leite como favorito. A rejeição a Doria fora do PSDB paulista é tão intensa que se ele vencer, fará campanha sozinho. O inverso também é verdade. Se for o escolhido, Eduardo Leite não terá o apoio de Doria e sofrerá enorme pressão para ser vice de outro candidato.

É clássica a definição do cientista político francês Maurice Duverger (1917-2014), autor de um conhecido princípio sobre eleições majoritárias: “O centro não existe em política. Pode haver um partido de centro, mas não uma tendência de centro, uma doutrina de centro… Chamamos centro ao lugar geométrico donde se reúnem os moderados de tendências opostas: os moderados de direita e os moderados de esquerda”. A questão no Brasil de 2022 é que sobram pré-candidatos, mas nenhum coloca de pé uma proposta alternativa a Lula e Bolsonaro que junte os moderados de esquerda e de direita.

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Aos 35 anos, Eduardo Leite não demonstrou até agora a tarimba para enfrentar uma campanha nacional. Na segunda-feira (25/10), o Valor publicou uma entrevista constrangedora com o governador gaúcho, na qual algumas perguntas precisaram ser respondidas pelo seu assessor econômico, Aod Cunha. Nível Bolsonaro nos tempos quando Guedes era o ‘Posto Ipiranga’.

Sergio Moro, que em dezembro lança em livro a sua versão dos últimos oito anos do Brasil, se mostra por enquanto incapaz de concatenar propostas para além das pautas corporativas dos juízes e procuradores. A sua pré-candidatura parece mais uma oportunidade ganhar palco e para defender a Lava Jato do que oferecer uma alternativa viável.

Na filiação ao PSD, na quarta-feira (26/10), o senador Rodrigo Pacheco não se saiu melhor. Lançado a presidente no Memorial JK e ao som de “Peixe Vivo” (a canção que perseguiu Juscelino Kubistchek até a morte), Pacheco fez um discurso fraco no qual defendeu a volta do otimismo. “Não podemos nos render ao negacionismo e ao negativismo”, disse. Otimismo é uma palavra bonita para dizer para uma plateia de políticos e empresários, mas não faz o menor sentido em um país com inflação de 10% e desemprego de 13%. Tente dizer isso ao trabalhador que está há duas horas dentro do trem para chegar no trabalho para ver o que ele responde. 

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Mesmo nas redes sociais _ que poderiam ser controladas dentro do ar-condicionado das salas onde esses pré-candidatos passam a maior parte do dia a direita liberal se mostra fraca. Pesquisa diária da agência Quaest calculando a popularidade dos políticos no Facebook, Instagram, Youtube, Twitter e Google mostra que, numa escala de aprovação de zero a 100, Lula e Bolsonaro lideram com mais de 50 pontos de popularidade nas redes. Ciro Gomes, Moro e Rodrigo Pacheco empatam na faixa entre 25 e 27,5; Leite, Mandetta, Doria, Datena circulam na casa dos 20 pontos. Com a propaganda de TV só começa em agosto de 2022, as redes sociais são o melhor canal que esses pré-candidatos têm para se tornar conhecidos. O fato de os pré-candidatos terem resultados raquíticos mostra falta de estratégia. 

O erro básico da direita liberal é acreditar que primeiro precisam conquistar a Faria Lima, os editorialistas dos jornais e a FIESP, a Febraban, a CNI, a CNA para só então ir atrás do voto do povo do Largo do Batata. É o simplismo de achar que basta surgir uma alternativa a Lula e Bolsonaro que, naturalmente, a força gravitacional vai cuidar do resto. Geraldo Alckmin achava isso em 2018 e deu no que deu.

Todos os pré-candidatos a terceira via repetem mantras sobre responsabilidade fiscal, reformas tributárias e melhoras no ambiente de negócios e não conseguem falar o que fazer com a alta dos combustíveis, propor um programa social para o lugar do Bolsa Família e como gerar empregos. Lula e Bolsonaro tem defeitos, mas traduzem cada um a seu jeito sentimentos reais da sociedade. Lula fala sobre a volta da fome no Brasil com propriedade, assim como Bolsonaro soube entender o medo do desemprego e da recessão com o lockdown na pandemia. Lula e Bolsonaro lideram porque estão fazendo por onde.

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