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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Por que Bolsonaro lida tão mal com os seus ministros?

Para Bolsonaro, esse é um jogo onde só existe um jeito, o dele

Por Thomas Traumann
23 abr 2020, 18h39

Brasília foi consumida nesta quinta-feira, 23, com vai-não-vai do pedido de demissão do ministro da Justiça, Sergio Moro. O presidente Jair Bolsonaro informou ao ministro que pretende trocar o diretor-geral da PF, o cargo mais importante da Justiça, e a resposta de Moro foi direta, “se ele sair, eu saio junto”. Até o fechamento desta coluna, Moro e o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, seguiam em seus cargos.

Essa não é a primeira vez que o presidente tromba com Moro. No ano passado, Bolsonaro chegou a anunciar que iria trocar a direção da Polícia Federal, depois que soube do avanço das investigações sobre o seu filho, Flavio Bolsonaro. Ao final, eles concordaram em trocar o superintende da PF no Rio de Janeiro, mas o estranhamento prosseguiu.

A ofensiva do presidente para mudar a PF vem no mesmo momento em que ele negocia a entrada dos partidos do Centrão no governo. Em troca dos votos dos deputados no Congresso, Bolsonaro e seus ministros estão oferecendo cargos para Valdemar Costa Neto (condenado no Mensalão e na Lava Jato), Roberto Jefferson (preso no Mensalão) e Arthur Lira (réu da Lava Jato). É natural supor que essas negociações incomodem a Moro, que fez carreira condenando essa turma.

Nesta semana, em uma transmissão via Facebook, outro filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro, reclamou da falta de solidariedade de Moro com o chefe. “Por que aqueles verdadeiros guerreiros não falam só no momento da vitória, falam também nos momentos em que a gente está sob fogo? Imaginem vocês, Jair Bolsonaro saindo do poder. Como será a vida de ministros como Sergio Moro e Paulo Guedes? Vocês acham que eles teriam a vida tranquila? Eu acho que dificilmente”.

A declaração é a chave para entender a difícil relação do presidente com os seus ministros. Ele pede a seus ministros não apenas lealdade, como seria natural. Pede que concordem e defendam com intransigência as posturas do presidente. Foi a divergência sobre a urgência do fim da quarentena que fez Bolsonaro queimar Mandetta.

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Agora, o presidente quer um Moro solidário e que, de quebra, segure as investigações da PF. É um preço alto. Moro aceitou o Ministério com duas ambições, aprovar no Congresso uma reforma no Código Penal para ampliar as condenações por crimes de corrupção e se tornar ministro do Supremo Tribunal Federal. A primeira proposta naufragou no Congresso. A segunda depende de Bolsonaro e o presidente já demonstrou querer indicar um ministro mais obediente.

Se permanecer no governo, Moro sabe desde já que terá crises regulares sobre até os limites das investigações da Polícia Federal. Para Bolsonaro, esse é um jogo onde só existe um jeito, o dele. Para Moro, é um jogo de perde-perde.

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