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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O ministro “semana que vem”

Paulo Guedes precisa parar de prometer o que não pode cumprir

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 jul 2020, 05h59 - Publicado em 6 jul 2020, 13h29

Em 30 de maio de 2019, o jornal O Globo publicou entrevista com o então secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra, com o título “Governo deve entregar proposta de reforma tributária em 20 dias”. À época a promessa parecia fora de hora, com o governo ainda batalhando pela aprovação da reforma da Previdência. Em setembro, no entanto, a previdência estava encaminhada e o próprio Paulo Guedes se sentiu seguro para anunciar, em um seminário em Belo Horizonte, que a reforma tributária seria enviada ao Congresso. “Semana que vem acho que a gente já começa a entrar com a nossa proposta tributária”, afirmou o ministro. Isso foi em 23 de setembro. “A semana que vem” de Guedes nunca chegou.

Neste domingo, Paulo Guedes concedeu à CNN Brasil a sua primeira longa entrevista desde o início da pandemia de Covid-19. Acostumado ao levanta-e-corta das lives de bancos e corretoras, o ministro recontou a história do mundo sob a sua ótica, tergiversou, manipulou dados, bravateou ter intimidado os presidentes Xi Jinping (China) e Vladimir Putin (Rússia) numa reunião dos Brics e prometeu coisas que nunca vai cumprir. A reforma tributária (aquela que até hoje o governo não apresentou proposta) será aprovada pelo Congresso até o fim do ano. Privatizações? Serão “quatro grandes” em 90 dias. Recessão? O pior já passou em abril e “já estamos saindo do buraco”.

A entrevista foi uma catástrofe para a credibilidade de Guedes. A palavra do ministro da Economia deveria ser a voz ponderada capaz de acalmar alarmistas e fazer os pessimistas pensarem duas vezes. Foi o contrário. Guedes assimilou um discurso de coach, no qual o culpado são os outros e o amanhã será melhor que hoje. Em um político ou um guru, esse mundo da fantasia pode ser aceitável. No ministro responsável por um país em recessão, não.

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No ano passado, Guedes prometeu reduzir o déficit público a zero (o resultado real foi de R$ 90 bilhões negativos) e arrecadar R$ 1 trilhão em privatizações (deu menos R$ 100 bilhões ). As suas citações à “trilhão de reais”para cada novo projeto (de leilões de estatais à venda de imóveis, de economia com a previdência à gastos extraordinários com Covid) viraram folclore. Só que ministros da economia não podem virar folclore.

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Quando o ministro faz afirmações obviamente falsas, compromete a sua credibilidade. Ninguém ao certo sabe quão fundo será a recessão, nem como se dará a recuperação, mas quando Guedes afirma categoricamente que será em formato de V (com queda e subida rápidas) poucos o levam a sério. Por quê? Porque se ele não traz uma apresentação honesta sobre o passado recente, fica difícil confiar nas suas previsões. Guido Mantega sofreu isso no passado e teve um triste fim.

Existem três urgências na agenda de Guedes, daquelas que precisam ser resolvidas “até semana que vem”:

– Destravar o crédito para empresas. Levantamento do próprio Ministério da Economia mostra que os quase R$ 70 bilhões anunciados para quatro grandes linhas de financiamento, apenas R$ 12,1 bilhões foram executados. As empresas estão morrendo não porque houve quarentena em algumas cidades, mas porque não tiveram crédito para sobreviver.

– Combater as fraudes no Auxílio Emergencial: de acordo com o Tribunal de Contas da União,620 mil pessoas receberam o auxílio emergencial de R0 irregularmente. Recuperar esse dinheiro e repassa-lo a quem realmente precisa é uma prioridade moral.

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– Montar o Renda Brasil: Guedes tem dois meses para produzir um novo programa social que vai juntar o cadastro do Bolsa Família com trabalhadores informais do auxílio emergencial. De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, o novo programa terá orçamento anual de R$ 52 bilhões (R$ 20 bilhões a mais que o Bolsa Família ) e atenderá 57 milhões de brasileiros (16 milhões a mais que o BF). Com o novo programa, o governo vai acabar com o abono salarial do PIS/PASEP, com o salário família, o Seguro Defeso e o Farmácia Popular.

Medidas como o fim do abono salarial precisam da aprovação no Congresso Nacional, que já está em ritmo de eleição.

É importante que o governo tenha critérios objetivos para quem pode se cadastrar no novo programa e faça uma campanha de comunicação didática para explicar que nem todos os que hoje recebem o auxílio emergencial continuarão sendo beneficiados.

Quando fala sobre o Brasil, Paulo Guedes se mostra um excelente candidato a ministro da Economia. Faz diagnósticos, mostra foco e aponta soluções. O drama é que ele já é ministro há um ano e meio e muito do que supunha poder fazer no cargo virou pó com a crise. Passou da hora do ministro parar com as promessas vãs e os rancores amargos. É hora de tentar resolver dramas objetivos que estão triturando a vida de milhões de brasileiros. Problemas que não podem ficar para a semana que vem.

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