O ministro motosserra
Ação da PF mostra como a gestão Ricardo Salles atua a favor dos madeireiros
Pouco menos de um mês depois de o presidente Jair Bolsonaro ter se exibido numa videoconferência para outros 39 líderes mundiais prometendo reduzir a desflorestamento da Amazônia, a verdade bateu à porta do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Com autorização do Supremo Tribunal Federal, policiais federais realizaram hoje buscas em 35 endereços, entre eles os gabinetes e as casas do ministro em São Paulo e Brasília.
A Operação Akuanduba da Polícia Federal investiga decisão do Ibama para afrouxar as regras para exportação de madeira retirada da Amazônia para os EUA e Europa. Além da suspeita de facilitação ao contrabando e retirada de madeira ilegal, o ministro do STF Alexandre de Moraes colocou o ministro em suspeita ao citar no processo que, entre 2019 e 2020, o escritório de advocacia de Salles movimentou mais de R$ 14 milhões. Salles é o segundo ministro de Bolsonaro investigado pela Polícia Federal (o primeiro foi Alvaro Antonio, ex do Turismo).
Nos 26 dias entre a Cúpula do Clima no qual Bolsonaro fez promessas ambientais para Joe Biden e hoje, o ministro Salles exibiu força. A seu pedido, foi afastado o delegado da Polícia Federal que o acusava de lobby por ter interferido a favor dos madeireiros que tiveram R$60 milhões em toras de madeiras aprendidas na região de Santarém, no Pará.
No mesmo período pós-promessas a Biden, a Câmara dos Deputados avançou em dois projetos pró-devastação: a flexibilização das licenças ambientais e a regularização de fazendas em terras invadidas mesmo em florestas públicas, promessas de campanha de Bolsonaro. O terceiro projeto de Salles e Bolsonaro na Câmara é a legalização de garimpos em terras indígenas.
Salles é um ministro competente. Assumiu o cargo com a missão de acabar com a capacidade de fiscalização do Ibama, dar mais liberdade para madeireiro, garimpeiros e grileiros e enfrentar de cabeça erguida as organizações ambientais. Tem cumprido tudo isso e muito mais. O afrouxamento das regras ambientais (a famosa “boiada” que ele pretendia passar) e a falta de fiscalização tornaram os dois anos e meio do governo Bolsonaro os piores para a Amazônia na década.
Nas conversas com o time de Biden pré-teleconferência, Salles ganhou o apelido de “senhor motosserra”, pelo seu histórico antiambiental. Para não gerar polêmica, o governo americano acabou engolindo o discurso de Bolsonaro de abril como “um avanço” e dizendo que aguardava provas de que as intenções de preservação da Amazônia sairiam do papel. A operação policial de hoje e as ações de Salles a favor de madeireiros, garimpeiros e grileiros só surpreendem os ingênuos.