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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O medo das ruas

É um paradoxo: se os brasileiros acreditassem que a Covid-19 é uma gripezinha, os protestos contra Bolsonaro seriam gigantes

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 9 jun 2020, 15h49

No epicentro mundial da pandemia de coronavírus, com o país prestes a entrar em recessão, o presidente Jair Bolsonaro disse que as manifestações contrárias ao governo são “o grande problema do momento”. Na segunda-feira, depois de protestos em doze capitais, Bolsonaro disse que “estão começando a colocar as mangas de fora”. O irônico é que o presidente tem razão, mas pelos motivos errados.

Desde o início da pandemia, cresce o número de brasileiros que rejeita o governo Bolsonaro. Eram 33% em março e hoje chegam perto de 50% da população. O desastre da condução presidencial no combate ao coronavírus acabou com a reputação de Bolsonaro. É como se a cada dia, 500 mil brasileiros que achavam o governo “regular” desistissem e passassem a odiar o presidente.

É um cenário atípico para um governante com menos de dois anos de mandato, mas que diante da inoperância de Bolsonaro só tende a piorar. O único fato que salva o presidente de ver a sua rejeição em protestos gigantescos pelas ruas é o medo do coronavírus. É um paradoxo. Se as pessoas acreditassem no discurso dele de que a Covid-19 é só uma gripezinha e as cidades reabrissem seu comércio, o resultado seria as maiores manifestações políticas desde o impeachment.

Desde a pandemia, as manifestações eram exclusivas dos bolsonaristas. Sem medo da contaminação, milhares de pessoas com camisetas da seleção brasileira foram às ruas com cartazes pelo fechamento do Congresso e a prisão dos ministros do Supremo, marcharam com tochas imitando a Klu Klux Klan e aplaudiram o presidente andando a cavalo como se fosse um herói de sessão da tarde. Bolsonaristas agrediram enfermeiras, colocaram um carro de som na porta do edifício de um ministro do STF e impediram ambulâncias de levar pacientes para os hospitais. Tudo normal. Agora que alguns poucos oposicionistas arriscam ir às ruas, o presidente trata do caso como se fosse prenúncio de uma nova marcha de 2013.

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Se existe alguma lição das marchas de 2013 é a de que esse tipo de ameaça não funciona. A PM paulista bateu sem dó nos estudantes em junho de 2013 e o movimento só cresceu – aliás, como ocorreu nos EUA nos atos antirracistas. A repressão pura e o discurso da Lei e da Ordem funcionam para os eleitores bolsonaristas, mas não para quem se dispõe a ir às ruas como oposição.

Um dos mais longevos políticos brasileiros, Ulysses Guimarães dizia que “a única coisa que político tem medo é povo na rua”. Generais também. Os generais sabiam que havia limites para o uso da força contra os metalúrgicos na greve em 1979 e os milhares que foram às ruas pelas Diretas Já. Sem um único tiro, a “voz roucas das ruas” (outra metáfora do velho Ulysses) derrubou o Regime Militar em 1985, apeou Fernando Collor em 1992 e encerrou treze anos de domínio petista em 2016. Agora, de novo, o governo tem medo do que vai escutar.

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