Na briga Guedes-Maia, o perdedor é você
Chamado de “desequilibrado”, o ministro da Economia promete “luta” contra presidente da Câmara
A briga pública entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já tem um perdedor: você. Quando duas das maiores autoridades públicas batem boca em um nível de quinta série, elas revelam a falta de rumo de um País que nesta semana bateu o recorde no número de desempregados, teve a sua moeda como mais desvalorizada do mundo e vai fechar sob a maior recessão da história.
Guedes e Maia não se dão desde a disputa pelos louros da aprovação da reforma da previdência, no ano passado, mas o que era ruim, ficou pior. Na segunda-feira (28/09), ao lado do presidente Jair Bolsonaro e dos líderes do governo no Congresso, Guedes afiançou um plano sem pé-nem-cabeça para tirar dinheiro da merenda escolar e dar calote nas dívidas federais para arranjar dinheiro para a versão bolsonarista do Bolsa Família. Por trás do plano estava a recriação da CPMF, que Guedes considera a panaceia para todos os problemas e Maia considera um purgante.
Na mesma dia, no twitter, Maia perguntou “por que o ministro Paulo Guedes interditou o debate da reforma tributária?”, ironizando a demora do Ministério em enviar a sua proposta sobre o tema prioritário para a Câmara. No dia seguinte, Guedes disse em entrevista coletiva que Maia, “junto com os partidos de esquerda”, estava boicotando as privatizações. “Guedes está desequilibrado. Recomendo que ele assista ao filme ‘A Queda’ (sobre os últimos dias de Hitler antes da derrota)”, respondeu Maia à repórter Andréia Sadi, da Globonews. “Guedes não tem votos para aprovar privatização, CPMF e a culpa é dos outros?”.
Hoje, segundo a repórter Renata Agostini, da CNN Brasil, Guedes disse a amigos sobre a querela com o presidente da Câmara: “Ficou engraçado me xingar. Passa lá, dá um chute no PG. Então eu vou revidar. E no mais forte. Para mostrar que tem luta”.
O saldo dos pontapés entre Guedes e Maia:
(1) o governo não consegue montar um novo programa social para os milhões de miseráveis atingidos pela pandemia que caiba dentro da Lei de Teto de Gastos;
(2) a Câmara não consegue levar à frente o projeto da reforma tributária, essencial para simplificar e baratear as operações das empresas;
(3) também não andam outras propostas, como a de renegociação das dívidas dos Estados, uso do dinheiro dos fundos setoriais e reforma administrativa.
Isso significa que o Brasil não está se preparando para 2021, quando milhões de pessoas deixarão de receber o Auxílio Emergencial, o orçamento voltará a ser restrito pela Lei do Teto de Gastos (este ano é uma exceção) e a pandemia ainda não terá terminado.
As consequências prováveis? Mais instabilidade política, o que gera menos investimentos e mais volatilidade nas bolsas, no dólar e nos preços. Essa conta quem vai pagar é você.
PS: nunca um ministro da Economia teve coragem de bater de frente com o chefe da Câmara dos Deputados, afinal todos os projetos de interesse do governo precisam do aval do Congresso. Os últimos três ministros a trombar com um presidente da Câmara foram Abraham Weintraub (2019), Pepe Vargas (2015) e Cid Gomes (2015). Os três terminaram demitidos.