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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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E se gritar pega o Centrão?

Ao distribuir cargos em troca de votos, Bolsonaro faz a mais velha das políticas

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 3 jun 2020, 15h31

No dia 22 de julho de 2018, na convenção que escolheu Jair Bolsonaro como candidato a presidente pelo PSL, o general da reserva Augusto Heleno se destacou parodiando o samba Festa de Bacana, do sexteto Originais do Samba: “Se gritar pega o Centrão, não fica um meu irmão”, cantou o general, substituindo a palavra “ladrão”, da letra original, pelo nome dado ao bloco partidário conhecido por estar em 98 de cada 100 escândalos políticos dos últimos anos.

Quase dois anos depois, Bolsonaro é presidente, Heleno é chefe do Gabinete de Segurança Institucional, responsável pela inteligência do governo, e o Centrão está de volta para a festa.

O Partido Liberal, do notório Valdemar da Costa Neto, ganhou o Banco do Nordeste, responsável pelo Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste, uma bolada de 29,3 bilhões de reais para aplicações nos nove estados do Nordeste, Espírito Santo e Minas Gerais. Também ficou com o PL a Secretaria de Vigilância em Saúde. O ex-chefe de gabinete do senador Ciro Nogueira, do Progressistas, é o novo presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, que tem um orçamento de quase 54 bilhões de reais. O Progressistas já havia levando a diretoria-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). A Funasa está com o PSD, de Gilberto Kassab, e o Republicanos (ligado à Igreja Universal) nomeou o novo secretário nacional de mobilidade do Ministério de Desenvolvimento Regional.

Nada diferente do que José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer fizeram quando estiveram na Presidência. A diferença é que nenhuma passou a campanha batendo no peito dizendo que com ele o toma-lá-dá-cá de cargos no governo por votos no Congresso iria acabar (Collor fez isso por um tempo, mas logo baixou o tom).

Constrangido, o próprio Bolsonaro reconheceu as negociações em transmissão via Facebook. “Temos que ter agenda positiva para o Brasil e temos que conversar com partidos de centro também. Conduzi a conversa ao longo dos dois últimos meses. Conversei com praticamente todos presidentes e líderes de partidos. Sim, alguns querem cargos, não vou negar. Trocamos alguns cargos nesse sentido. Atendemos, sim, a alguns partidos nesse sentido (de cargos)”, disse Bolsonaro.

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Os eleitores de Bolsonaro reagiram. Pesquisa Datafolha mostrou que 67% dos brasileiros consideram que Bolsonaro age mal ao negociar cargos e verbas com deputados e senadores para garantir apoio no Congresso. Dois de cada três brasileiros disseram ao Datafolha que o presidente não está cumprindo o que prometeu na eleição de 2018 sobre a relação com o Legislativo.

Como o Brasil tem um sistema com dezenas de partidos, nenhum presidente é eleito com a maioria no Legislativo. Por isso, precisa negociar apoios para aprovar seus projetos no Congresso. Quando dizia que representava a Nova Política, Bolsonaro estava apenas vendendo ilusões. A questão é a finalidade dos acordos. FHC usou a sua base no Congresso para aprovar reformas e privatizações. Lula para ampliar a política social.

Bolsonaro, por sua vez, só chamou o pessoal do Centrão porque tem medo de um processo de impeachment. Eleito pelo PSL, o presidente rompeu com o partido e tem hoje menos de 30 deputados realmente fiéis. Se gritar “pega o Centrão”, Bolsonaro cai. Por isso, hoje ele e o general convidaram o Centrão para a festa de bacana. Com a turma do Centrão, Bolsonaro passa de 200 deputados, acima do mínimo de 172 votos para evitar o impeachment.

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