Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
Continua após publicidade

Como Bolsonaro opera sob pressão

Atrás na corrida eleitoral, o presidente vai mudar seu governo de novo

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 mar 2021, 00h03 - Publicado em 18 mar 2021, 11h52

Passados mais de dois anos de governo Bolsonaro, já é possível antecipar como o presidente reage sob pressão. No início de 2019, quando a sua incapacidade administrativa espantou até amigos de longa data, Bolsonaro demitiu os ministros Santos Cruz e Gustavo Bebianno e passou a governar e falar apenas para os eleitores mais fiéis. Em 2020, quando a pandemia de Covid espantava o mundo e investigações avançavam contra um dos filhos, Bolsonaro demitiu os ministros Luiz Mandetta e Sergio Moro, e novamente radicalizou o discurso para minimizar a doença. Em julho do ano passado, quando suas ameaças de golpe passaram a ser lavadas a sério no STF, Bolsonaro recolheu as armas, fez um acordo com o Centrão no Congresso que eliminava a possibilidade de um impeachment e apontou seus ataques aos governadores. Colocado contra a parede, Bolsonaro reage.

Novamente, Bolsonaro está sob pressão. A inoperância em deixar milhões de famílias sem o Auxílio Emergencial a partir de janeiro cobra um preço alto na popularidade e na economia. O crescimento do final de 2020 foi um soluço, a inflação voltou e os juros subiram. A negligência em encomendar vacinas no ano passado vai matar milhares de brasileiros. Em nenhum país foram registradas em março tantas mortes por Covid-19 quanto no Brasil.

O reflexo desse momento pode ser sentido pela catarse da oposição com a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à corrida eleitoral e medido pela pesquisa PoderData. Pela primeira vez, Bolsonaro não lidera as intenções de voto para o primeiro turno e, mais impressionante, perde para Lula e Ciro Gomes no segundo. A rejeição a Bolsonaro é tamanha que o apresentador Luciano Huck, que tem apenas 4% das intenções de votos no primeiro turno, salta para 40% no segundo e fica em vantagem técnica sobre o presidente, com 37%. Hoje há o clima eleitoral é de “qualquer um menos ele”.

Bolsonaro começou reagindo como de outras vezes. Primeiro, demitiu o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, e o secretário de comunicação, Fabio Wajngarten. Depois, voltou a bater nos governadores que pensam em fazer lockdown. De quebra, fez insinuações de golpe militar. Mas está claro que essas atitudes são apenas o prefácio do que vem por aí.

A prioridade do presidente é ganhar as eleições. Ponto. Se para isso vai esquecer as privatizações ou, ao contrário, irá acelerá-las para ele é indiferente. O importante para entender o Bolsonaro daqui por diante é partir da premissa de que toda decisão do Planalto será essencialmente eleitoral.

Quais são os gargalos imediatos:

Continua após a publicidade

1. Auxílio Emergencial – Se o governo for minimente competente, é possível voltar a pagar o benefício médio de R$ 250 a partir da semana que vem. É impossível, no entanto, que a volta do Auxílio ajude a popularidade de Bolsonaro como fez no ano passado. Primeiro porque o novo Auxílio vai ajudar cerca de 40 milhões de pessoas, 28 milhões a menos do que em 2020. Segundo porque o valor é menor e foi corroído pela inflação. Em um ano, o arroz, feijão, óleo de soja e carne subiram mais 50%.

É provável que o presidente estenda o Auxílio até o final do ano.

2. Combustíveis – O general Luna e Silva assume a presidência da Petrobras no mês que vem com a missão de atenuar os preços dos combustíveis para o consumidor. Isso foi tentado no primeiro governo Dilma e rendeu um prejuízo contábil de R$ 6 bilhões à Petrobras.

A equipe que assessora o general deve tentar a ideia de um fundo que limite os aumentos de combustíveis a um período do mês (permitindo previsibilidade aos caminhoneiros), mas que não abaixe os preços quando as cotações internacionais caírem. O problema é que as perspectivas são de altas continuadas. Não se deve descartar o risco de que, de novo, o caixa da Petrobras assuma os reajustes internacionais.

3. Vacinas – Graças à intransigência de Bolsonaro, hoje faltam vacinas nos postos de saúde. Isso deve mudar a partir de maio, quando ficarão prontos doses tanto do Butantã, quanto da Fiocruz. Mesmo assim, a promessa do Ministério da Saúde de vacinar as 60 milhões de brasileiros acima de 60 anos ou de grupos de risco até junho é mentirosa.

Continua após a publicidade

Nas atuais circunstâncias, com o Ministério da Saúde brigando com os governos dos Estados e faltando vacina no mundo todo, o mais provável é que a vacinação só seja concluída em um ano.

4. Empregos – A economia vai mal e depende da vacinação em massa para se recuperar. A relação é direta.

5. Biden – Em abril, o presidente dos EUA lança um financiamento de US$ 20 bilhões para proteger a Amazônia. Colômbia e Peru já estão na fila, mas é natural que o Brasil possa ter a maior parte do fundo. Só que junto com o dinheiro, virá terá um monitoramento internacional que não vai aceitar o “vamos passar a boiada” do ministro do antiambiente, Ricardo Salles. Se não aceitar, aposte com força que os EUA vão tornar a vida do Brasil um inferno.

Bolsonaro estará entre desagradar os agrotrogloditas, base fundamental para sua eleição, ou se submeter aos americanos que não gostam dele. É possível que fique com os votos.

É natural que Bolsonaro aumente o volume de seus ataques a Lula e aos governadores, mas a proximidade das eleições irá obrigá-lo a agir sobre fatos reais. Em bom português, além de modular o discurso para agitar suas massas, Bolsonaro vai ter de governar. Sob pressão.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.