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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Como a eleição de Biden influencia o Brasil

Vitória do candidato democrata deve ampliar pressão internacional sobre Bolsonaro

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 5 ago 2020, 17h52

Quando era vice-presidente americano, Joe Biden tinha como uma de suas funções cuidar das relações dos EUA com a América Latina. Ele foi importante no destensionamento com Cuba, não escalou as sanções contra Venezuela e defendeu o endurecimento da política de imigração. Mas foi com o Brasil que Biden teve, ao mesmo, foi maior sucesso e fracasso.

A diplomacia do governo Lula terminou com um gosto amargo com malogro do acordo de controle nuclear do Irã. A tentativa brasileira de mediar um tratado que assegurasse acesso limitado de urânio ao Irã foi sabotada pelos americanos. Luís Inácio Lula da Silva nunca perdoou Barack Obama e quando houve a troca de poder, o americano fez o possível para se aproximar de Dilma Rousseff.

Biden era o enviado especial para normalizar as relações EUA e Brasil. Veio ao Brasil várias vezes e telefonava para Dilma quase todos os meses. Tanto interesse também era econômico. À época, o Brasil negociava a renovação de sua frota de caças da Aeronáutica com empresas candidatas de três países, França, Suécia e Estados Unidos. Os franceses eram os preferidos do ministro da Defesa, Nelson Jobim, enquanto os suecos tinham a predileção dos brigadeiros.

Como um caixeiro viajante, Biden se reunia com ministros, brigadeiros e políticos. Quando alguém reclamava da rigidez do Departamento de Defesa dos EUA sobre transferência de tecnologia, o então vice anotava e, um mês depois, voltava com uma resposta. Quando alguém reclamava de preço, ele voltava com um desconto e um financiamento a juros subsidiados. Em alguns meses de trabalho de Biden, a companhia americana Boeing já era a favorita para vencer a licitação. Biden é um vendedor capaz de vender geladeiras no Alaska ( sobre detalhes das negociações leia as matérias da Americas Quartely e do Estadão.

Tudo mudou quando, em 2013, surgiram os vazamentos do Wikileaks mostrando que a agência de espionagem americana havia grampeado os telefones de Dilma Rousseff, dezenas de assessores e diretores da Petrobras. Não havia condições políticas para uma empresa americana vencer uma licitação de entrega de produtos militares depois do escândalo e o projeto comercial de Biden fracassou. O vice-presidente foi o porta-voz do pedido oficial de desculpas que Barack Obama não fez. Mesmo sem a vitória da Boeing, Biden conseguiu que as relações dos governos não se deteriorassem. Foi um feito num momento em que o antiamericanismo crescia na Venezuela e Argentina.

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Por essa experiência no caso Boeing e Wikileaks, se for eleito, Joe Biden será o presidente americano que melhor conhece o Brasil na história. Ele conhece como os políticos raciocinam, sabe como funciona a burocracia e tem o respeito dos militares. Se Biden for presidente, Jair Bolsonaro terá um interlocutor sem meias-palavras.

Em março, em entrevista por email à revista Americas Quaterly, Biden foi ameaçador ao responder sobre a política ambiental do Brasil. “Os incêndios que atingiram a Amazônia no verão passado (2019) foram devastadores e provocaram uma ação global para frear a destruição e ajudar no reflorestamento antes que seja tarde demais. O presidente Bolsonaro deve saber que, se o Brasil falhar em ser o guardião responsável da floresta amazônica, o meu governo reunirá o mundo para garantir que o meio ambiente fique protegido”, afirmou.

Nas últimas semanas, diplomatas ligados ao Departamento de Estado tentaram minimizar a declaração, informando que o pragmático Biden não colocaria a agenda ambiental acima das relações comercial. Bobagem. O Brasil sob Bolsonaro é o vilão ambiental mundial e o novo presidente americano nunca iria ignorar o poder do discurso verde na juventude americana.

Pressionar o Brasil a ter uma política ambiental responsável é uma das ações mais baratas que Biden pode tomar no seu primeiro ano de governo, junto com o retorno dos EUA ao Acordo Climático de Paris. Se o Brasil mantiver a sua política destrutiva, impor sanções comerciais ao Brasil ganharia popularidade junto aos jovens verdes e aos agricultores do Meio Oeste. Supor que um calejado Biden perderia essa oportunidade é desconhecer o be-a-bá da política. A eleição de Biden será uma péssima para Bolsonaro.

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