Candidatura Moro é sinal de desespero
Para preservar seu lugar na história, ex-juiz ensaia uma candidatura que atrapalha o surgimento de nome unificado contra Bolsonaro e Lula
O retorno de Sergio Moro ao rol de possível candidatos a presidente prova a falta de rumo da direita liberal para 2022. Apostar no ex-juiz e ex-ministro depois de tudo é como um time que aposta no chuveirinho para fazer um gol salvador. Pode dar certo, mas em geral dá errado. É cedo demais para tanto desespero.
Se tivesse deixado a magistratura para ser candidato em 2018, Moro teria chances reais de ser eleito. O espírito do tempo daquela eleição era por um alguém que representasse a antipolítica. Poderia ter sido Moro ou Joaquim Barbosa ou Luciano Huck. Acabou sendo Jair Bolsonaro, a quem Moro primeiro ajudou com decisões nas vésperas da campanha e depois apoiou ao aceitar ser ministro da Justiça. Agora, o seu tempo passou.
Moro foi um péssimo ministro. Cedeu às pautas pró-armas e pró-policiais de Bolsonaro, não avançou na agenda anticorrupção no Legislativa e foi incapaz de reconhecer as distorções do conluio entre os procuradores da Lava Jato, e que depois serviram para o STF anular parte substancial das investigações. Quando foi escanteado pelo presidente, Moro saiu sem apoiar as investigações abertas no Supremo Tribunal Federal que poderiam então levar à responsabilização pessoal do presidente para impedir as investigações de corrupção de Flavio Bolsonaro.
Confrontado com as revelações da Vaza Jato sobre o jogo combinado dos procuradores e sofrendo a perseguição da máquina de o ódio bolsonarista, Moro decidiu tocar sua carreira. Escolheu uma empresa que recebia ganhos indiretos sobre o processo que ele mesmo julgou contra uma das empreiteiras condenadas na Operação Lava Jato. Pode ter sido uma coincidência, mas o Moro de Curitiba não acreditava em coincidências.
Moro continua sendo uma personalidade popular, especialmente na classe média do Sudeste. Quando o seu nome é colocado nas pesquisas, pontua pouco abaixo dos 10% das intenções de voto. É bastante para torná-lo um ótimo cabo eleitoral da direita liberal, mas não é um game changer.
Amado nas redações dos maiores jornais, o ex-juiz é odiado com a mesma intensidade por petistas e bolsonaristas e ainda é rejeitado pela maioria do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. O seu potencial de crescimento é menor que o das outras opções e ainda atrapalha o surgimento de um nome unificado da direita liberal.
O ex-juiz só voltou a se interessar pela possibilidade da candidatura porque teme _ com razão_ que uma vitória de Lula vá reescrever o seu papel na história. É uma aventura ególatra, não uma tentativa real de apresentar um projeto de país que seja diferente do de Bolsonaro e do de Lula. Moro não era o salvador da Pátria em 2018 e não será em 2022.