Bolsonaro, o elefante na sala
Emissários do EUA dizem que pode haver sanções por devastação na Amazônia
Em reunião com políticos, empresários e líderes da Amazônia, o ex-negociador chefe do governo Obama para questões de clima, Todd Stern, chamou o presidente Jair Bolsonaro de “o elefante na sala” na questão ambiental e anunciou que o governo Biden pode impor sanções comerciais contra empresas envolvidas na destruição da floresta. De acordo com o relato da repórter Daniela Chiaretti, do Valor, a pressão dos americanos é questão de tempo. “Deixem-me dizer algumas palavras sobre, talvez, o elefante na sala: o governo Bolsonaro. Entendemos onde Bolsonaro esteve na questão climática, porque ele se alinhou a seu ex-melhor amigo, Donald Trump, em falas em que a mudança do clima seria uma farsa. E que até hoje não tem se interessado em ofertas de apoio à Amazônia”, disse Stern, ontem para uma plateia de mais de 150 pessoas que incluía empresários como Pedro Passos (Natura) e José Roberto Marinho (Globo), ambientalistas como Tasso Azevedo e Adriana Ramos e pré-candidatos a presidência, como Flavio Dino e Luciano Huck.
Responsável pelo apoio americano ao Acordo Climático de Paris, em 2015, Stern foi de uma sinceridade brutal para quem está acostumado aos rapapés da linguagem diplomática. Ele confirmou que o governo Biden prepara a oferta de um fundo global de 20 bilhões para proteger a Amazônia e que haverá disposição do novo governo em trabalhar com o governo Bolsonaro. Mas se Bolsonaro virar um problema, os EUA vão passar por cima.
“Não é possível, é virtualmente impossível, alcançar as metas do Acordo de Paris, que nós, Estados Unidos, Brasil e todas as nações do mundo endossamos, sem manter a Amazônia intacta. É um fato da vida”, disse. “A ciência está dizendo claramente que precisamos parar o desmatamento globalmente nesta década. O desenvolvimento descontrolado e o desmatamento ilegal na Amazônia não podem ameaçar a segurança e o bem-estar das pessoas no Brasil e no mundo”.
Ele fez ainda um claro aviso às empresas brasileiras que atuam na Amazônia. Por enquanto, disse Stern, “não há barreiras nos EUA para plantios em áreas desmatadas na Amazônia”, mas novas barreiras serão criadas para obrigar as empresas do Brasil e de outros países amazônicos a rastrear a origem de seus produtos. Em outras palavras, haverá sanções se o governo Bolsonaro não colaborar.
O governo Biden joga com as cartas na mesa. Vai gastar saliva e dinheiro para convencer Bolsonaro a parar com a política de devastação. Em apenas dois anos, Bolsonaro conseguiu bater recordes de desmatamento e queimadas, destruindo uma área de floresta equivalente a Israel. Neste ano, o governo Bolsonaro cancelou as operações do Exército de combate ao desmatamento e colocou como suas prioridades no Congresso os projetos que legalizam a posse de fazendas em áreas invadidas de parques nacionais e o garimpo em terras indígenas.
Como não parece provável que nem Bolsonaro, nem Biden mudarão seus movimentos, choque é inevitável. Resta às empresas brasileiras se preparar para o pior.