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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Bolsonaro e o medo das ruas

Atos de sábado mostram que ojeriza ao governo pode ficar incontrolável

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 31 Maio 2021, 12h32

Existe apenas uma coisa que mete mais medo em Jair Bolsonaro do que um processo de impeachment: o povo na rua. Em maio de 2019, seu governo recuou do bloqueio de verbas das universidades depois que estudantes foram às ruas. Em novembro, quando o Chile entrou em convulsão com os protestos contra o governo local, Bolsonaro chamou os atos de “terrorismo” e seu ministro da economia falou em AI-5 caso algo similar ocorresse no Brasil. Quando chegou a pandemia, Bolsonaro repetiu que ordenaria a intervenção do Exército caso as interdições nas cidades gerassem saques nos supermercados.

No sábado, o maior medo de Bolsonaro se concretizou. Centenas de milhares de pessoas foram às ruas em dezenas de cidades para mostrar sua ojeriza à condução de Bolsonaro na pandemia. É uma contradição. As pessoas protestavam contra Bolsonaro se aglomerando, aumentando o risco delas mesmas se infectarem. À Folha, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, aproveitou para ironizar : “Criticam de forma tão convicta as mobilizações do presidente e, de repente, fazem a mesma coisa”.

Mas esta não é uma competição moral. Aglomerações aumentam o risco de propagação do vírus da Covid-19 seja numa manifestação promovida por Bolsonaro, pelas oposições, pelos bares, pelas igrejas ou pelo futebol. Não existe vírus do bem. Dito isso, a manifestação de sábado gera efeitos políticos como os círculos formados por uma pedra jogada no lago.

A primeira consequência é tirar de Bolsonaro a exclusividade das ruas. Desde o início da pandemia, as oposições se recolheram, enquanto o bolsonarismo demonstrava orgulhoso o seu desprezo pelas normas da ciência. Por isso, os atos de sábado foram improvisados, com apoio explícito apenas do PSOL e sem a presença de nenhum candidato a presidente em 2022.

A multidão que desaguou nas ruas foi uma surpresa para os organizadores e é reveladora do tamanho do ódio que Bolsonaro provoca. Se havia dúvidas sobre os índices das pesquisas mostrando a desaprovação do governo na casa dos 60%, não há mais. Para cada pessoa que foi às ruas no sábado, outras tantas gostariam de ter ido e ficaram em casa por medo.

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Como reconheceu ao Valor o presidente do PP e maior aliado de Bolsonaro no Senado, Ciro Nogueira, “o presidente está no pior momento por conta da situação do país. Hoje, ele não seria reeleito”.

As oposições não sabem o que fazer com essa insatisfação popular. Em situações normais, haveria novos protestos a cada semana até o Congresso se sentir pressionado e abrir um processo de impeachment. Com as interdições sanitárias pela pandemia e o controle da Câmara pelo Centrão, a hipótese de impeachment é nula.

Só que o sábado também mostrou que os líderes das oposições não coordenam o sentimento popular. Se as pessoas quiserem ir mais vezes às ruas exibir sua revolta não serão editoriais de jornais, nem tuítes de políticos que irão mantê-las em casa. A desconexão entre o tempo dos políticos e a pressa do povo ocorreu nos protestos do Chile em 2019, nos Estados Unidos em 2020 e agora na Colômbia, onde as manifestações puxaram os políticos e não o contrário.

No livro Tormenta, a jornalista Thais Oyama relata traços de paranoia de Bolsonaro. Quando deputado federal, ele olhava por baixo do carro para checar se não havia bomba e nunca bebia água da geladeira, por medo de envenenamento. Com as manifestações do sábado, Bolsonaro tem um motivo real para ter medo.

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