As provas da ‘rachadinha’ de Flávio Bolsonaro
Ex-assessora mostra comprovantes de depósitos na conta de Queiroz
Luiza Sousa Paes foi assessora do gabinete do hoje senador Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro entre agosto de 2011 e abril 2012. Depois, seguiu como servidora comissionada na Assembleia até 2017. Só que ela nunca apareceu por lá. Ela recebia o salário e repassava mais de 90% para as contas de Fabrício Queiroz, o então chefe de gabinete de Flávio Bolsonaro. Ela entregou ao Ministério Público os comprovantes dos depósitos bancários que fez para conta de Queiroz.
Deve-se aos repórteres Juliana Dal Piva, Bela Megale e Chico Otavio o mérito de publicar as revelações na edição de hoje do jornal O Globo. A partir das provas entregues por Luiza e quase dois anos de investigações, o Ministério Público denunciou Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz e mais 15 pessoas ao Tribunal de Justiça do Rio pelos crimes de organização criminosa, peculato, lavagem de dinheiro e apropriação indébita. Flávio Bolsonaro afirmou que a denúncia contém “erros bizarros”. A defesa quer tirar o caso da Justiça do Rio alegando que agora ele é senador e tem direito a ser julgado pela Justiça Federal, o chamado foro privilegiado.
A confissão da ex-assessora é difícil de retrucar. Ao longo dos anos, o seu salário variou de R$ 4,9 mil para R$ 5,2 mil, mas ela ficava só com R$ 700. Todo o resto era devolvido para Queiroz, no esquema conhecido como “rachadinha”. Em seis anos, ela depositou quase R$ 160 mil em depósitos na conta de Fabrício Queiroz. Como se sabe, Queiroz e sua mulher depositaram R$ 89 mil na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro. A primeira-dama nunca informou qual o motivo dos depósitos, nem se informou a Receita Federal sobre a operação.
A ex-assessora passou a ser investigada depois que o COAF (o órgão que analisa operações bancárias suspeitas) chegou ao seu nome e ao de oito comissionados do gabinete de Flávio Bolsonaro que faziam depósitos sistemáticos nas contas de Queiroz. No mês passado, a defesa de Flavio Bolsonaro pediu ao ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, uma investigação sobre suposto vazamento de dados do COAF envolvendo as investigações de Flávio Bolsonaro. A intenção da defesa era anular essas provas, incluindo aí as investigações que levaram os procuradores até Luiza Souza Paes. O GSI informou que apenas repassou o pedido para a Receita Federal.