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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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As oposições precisam dizer ‘sim’

Com Bolsonaro enfraquecido, os adversários devem ter um programa mínimo para superar a crise

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 18h51 - Publicado em 24 jun 2020, 12h27

As oposições acompanham o governo Bolsonaro com a pressa dos urubus. Ficam ali, ciscando, olhando o presidente se mexer, torcendo para que ele se derrube sozinho, como ele tem feito nesses tempos. Desde o início da pandemia, as oposições tiveram uma proposta realmente boa, a elevação do auxílio emergencial para R$ 600, mas agora que o governo Bolsonaro planeja acabar com o benefício, os adversários do governo estão quietos (a economista Monica de Bolle publicou importante artigo sobre o tema no Estadão).

Sem poder ir às ruas, os líderes das várias matizes da oposição pretendem participar de uma live para neste sábado, 27. O palanque virtual vai incluir possíveis candidatos ao cargo de Bolsonaro (Fernando Haddad, Ciro Gomes, Luciano Huck, Flavio Dino e Guilherme Boulos), mas por enquanto o encontro traz mais perguntas do que respostas. Afinal, o que que une essas pessoas, todas representantes potenciais de dezenas de milhões de brasileiros desgostosos com o governo Bolsonaro? 

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O Brasil elegeu vários presidentes dizendo “não”. Fernando Collor se elegeu em 1989 dizendo “não” aos marajás do serviço público e à corrupção. Dilma Rousseff se reelegeu dizendo “não” ao cortes de direitos sociais. Bolsonaro venceu dizendo “não” à corrupção, ao petismo e aos direitos das minorias. Dizer “‘não” ou gritar “basta” assegura votos, mas não traz a felicidade. 

A derrocada do governo Bolsonaro é um problema seu, meu e nosso. Quando o presidente se mostra incapaz de lidar com a pandemia de coronavírus o resultado são mais de 50 mil mortos e a perspectivas de outras dezenas de milhares de vítimas nos próximos meses. Quando o ministro da Economia tira números da cabeça sem fazer conta afeta a credibilidade da política econômica e deixa represado bilhões de reais que poderiam salvar empresas e empregos. Quando o ministro do Meio Ambiente se orgulha de “passar a boiada” para ajudar grileiros e garimpeiros ameaça investimentos estrangeiros e as exportações de produtos brasileiros. Quando o ministro da Educação se preocupa mais com as olavices do que com o ensino, o futuro do Brasil fica mais burro e mais pobre.

Apontar os erros de Bolsonaro, contudo, não é suficiente. Defender a democracia assegurada na Constituição de 1988 e o respeitos às instituições são pontos importantes, mas também é pouco para o tamanho da crise. É preciso uma agenda mínima para ajudar o Brasil a transitar entre o momento atual, de pandemia descontrolada e recessão, para uma estabilidade mínima. É natural que Haddad, Ciro, Huck, Dino, Boulos, Sergio Moro, João Doria e João Amoêdo discordem de muita coisa, mas é fundamental que encontrem convergências. O estabelecimento de programa federal de renda básica para assegurar um ganho mínimo aos desamparados, por exemplo. É básica a necessidade de uma comissão entre técnicos do Ministério da Saúde, das secretarias de saúde dos estados e prefeituras e institutos de pesquisa para montar normas científicas para as interdições nas cidades e janelas de liberação ao longo da pandemia. É preciso mais verbas para a saúde e pesquisas universitárias. É urgente intervir para que o dinheiro reservado no Tesouro para empréstimo chegue às empresas antes que elas morram. O Brasil precisa de um plano mínimo para ter eleições livres em 2022. Bolsonaro se elegeu acelerando a divisão do país. Se quiserem tira-lo do poder, as oposições vão precisar concordar mais e dizer mais “sim” do que “não”.

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