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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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A relação abusiva de Bolsonaro com as Forças Armadas

A participação do ministro da Defesa em ato político rompe o apartidarismo dos militares

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2020, 12h42 - Publicado em 1 jun 2020, 11h38

A presença do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, ao lado do presidente Jair Bolsonaro no helicóptero que sobrevoou a manifestação pró-ditadura na Praça dos Três Poderes, em Brasília, neste domingo, 31, é um ponto de inflexão nas relações das Forças Armadas com a política partidária. Chefe direto dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, o general deveria simbolizar a fronteira entre as diretrizes de curto e médio prazo legitimadas pelas urnas e a política de Estado, que ultrapassam os tempos dos mandatos. Ao servir de acólito do presidente em uma manifestação abertamente partidária e intrinsecamente a favor da intervenção militar no Judiciário e no Legislativo, Azevedo e Silva rompeu este limite.

O capitão Jair Bolsonaro tem mais ministros militares que qualquer governo anterior, incluindo os dos generais do regime ditatorial. Hoje, além do presidente e do vice, nove dos 22 ministros do governo são egressos das Forças, incluindo o general da ativa Eduardo Pazuello, que ocupa interinamente o Ministério da Saúde. São mais de 2.500 militares com gratificações e cargos de confiança – um recorde para qualquer tempo. Não é uma ocupação com respaldo na sociedade. Segundo a última pesquisa do Datafolha, 52% dos brasileiros são contra a presença fardada no poder político.

O presidente se apropria da imagem das Forças Armadas para poder governar e intimidar. Quando tem um problema, nomeia um general. Assim, ao mesmo tempo reparte a sua responsabilidade de escolha com as Forças, tomando para si a credibilidade da instituição. Se der errado, ele acredita que não apanha sozinho.

Esta tática está sendo usada com péssimos resultados no Ministério da Saúde. Os mais de vinte militares que ocupam os principais cargos da pasta têm experiência em logística e conhecimentos nulos em epidemiologia. Pessoas erradas no lugar errado no pior momento. Quando a pandemia se for e as famílias das dezenas de milhares de brasileiros mortos por Covid-19 forem procurar os culpados, os seus dedos vão apontar Bolsonaro, alguns governadores e, agora, também os militares que aceitaram uma missão para a qual não tinham capacidade.

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Tão grave para a reputação da Força é a licença que Bolsonaro se permite para ameaçar outras instituições, mídia e adversários como espantalho do golpe militar. É fato que Bolsonaro convenceu a metade do Alto Comando do Exército de que existe um complô de ministros do STF, líderes do Congresso e empresários para impedi-lo de governar. A solidariedade desses militares com o que consideram uma perseguição ao presidente, no entanto, está se transformando em uma relação abusiva. Bolsonaro usa os militares como se fossem sua milícia, sua tropa particular para impedir vozes contrárias.

É preciso aprender com a história. Quando deixaram o governo com João Figueiredo em março de 1985, a imagem das Forças Armadas estava no chão. Eram os culpados diretos pela falência do Brasil, então o país com a maior dívida externa do mundo, inflação chegando a 200% ao ano e desigualdade social recorde. Foram necessárias décadas de trabalho sereno para as Forças recuperarem sua imagem junto à população. Essa reputação já se deteriorou nesses 500 dias de administração Bolsonaro. Quando Bolsonaro se for, a conta de ter apoiado de corpo e alma um governo tão incompetente cobrará o seu preço.

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