Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
Continua após publicidade

A reeleição foi erro que precisa ser corrigido

FHC reconheceu que recandidatura distorce a democracia. É hora de o Congresso mudar a lei

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 set 2020, 15h29 - Publicado em 8 set 2020, 12h55

Demorou 23 anos, mas Fernando Henrique Cardoso apresentou um mea culpa por ter jogado o peso de seu governo para aprovar a emenda da reeleição. A mudança constitucional foi aprovada em janeiro de 1997 e permitiu ao próprio FHC se recandidatar. Depois dele, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff se reelegeram. Hoje, Jair Bolsonaro é o favorito para as eleições de 2022.

“Cabe aqui um “mea culpa”. Permiti, e por fim aceitei, o instituto da reeleição (…) Apesar disso, fui acusado de “haver comprado” votos favoráveis à tese da reeleição no Congresso. De pouco vale desmentir e dizer que a maioria da população e do Congresso era favorável à minha reeleição: temiam a vitória… do Lula. Devo reconhecer que historicamente foi um erro: se quatro anos são insuficientes e seis parecem ser muito tempo, em vez de pedir que no quarto ano o eleitorado dê um voto de tipo “plebiscitário”, seria preferível termos um mandato de cinco anos e ponto final”, escreveu FHC, no Estadão.

É sempre positivo quando políticos descem do pedestal e reconhecem seus erros. O instituto da reeleição foi um erro histórico pois incentiva o uso da máquina pública e dos recursos dos contribuintes a favor de uma campanha permanente do presidente, dos governadores e dos prefeitos.

Mas a história contada por FHC está, com boa vontade, incompleta. O projeto de reeleição estava no centro das preocupações do PSDB desde o primeiro dia de mandato com as articulações do então ministro das Comunicações, Sergio Motta. E o PT de Lula nunca teve a menor chance de vitória. O PSDB temia, com razão, as candidaturas do então popular prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, e dos ex-presidentes Itamar Franco e José Sarney. FHC trabalhou intensamente para impedir que Itamar, então filiado ao PMDB, fosse seu adversário.

Continua após a publicidade

O mais grave, porém, é a rapidez com que FHC fala sobre a compra de votos na aprovação da emenda da reeleições. A emenda foi aprovada em fevereiro de 1997 e, em maio, a Folha de S. Paulo revelou a existência de um esquema de compra de votos para a aprovação da emenda. Em gravações, os deputados Ronivon Santiago e João Maia, ambos do Acre (e à época filiados ao PFL), relatavam ter recebido R$ 200 mil (R$1,2 milhão em valores corrigidos para valores de agosto de 2020). Os dois deputados renunciaram ao cargo, três parlamentares foram inocentados pela Comissão de Constituição e Justiça. O procurador geral da época, Geraldo Brindeiro, uma versão século 20 de Augusto Aras, não abriu sequer inquérito para apurar os fatos.

A democracia brasileira é jovem e falha. Os políticos não são cobrados o suficiente e os as pesquisas mostram que os eleitores não se sentem plenamente representados. O nome para resolver isso se chama reforma política, que precisa começar pelo fim da reeleição. O que acontece hoje na cidade do Rio, com o prefeito usando dinheiro público para contratar “guardiões” para defende-lo das reclamações nas portas dos hospitais, é apenas a ponta de um iceberg dos abusos cometidos em boa parte das cidades.

Prefeitos, governador e o presidente se sentem donos da máquina pública e a usam para alimentar sua claque de apoiadores. Cabe aos deputados e senadores usarem o pretexto do mea culpa de FHC para acabar com as reeleições que distorcem o equilíbrio de forças entre os candidatos.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.