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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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A proposta de semipresidencialismo é medo do povo

Ao inventar um sistema para tirar poderes do presidente, Congresso se iguala aos instintos golpistas de Bolsonaro

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 19 jul 2021, 15h11

A turma Terceira Via, o laboratório que pretende manufaturar um candidato que não seja nem Jair Bolsonaro nem Luiz Inácio Lula da Silva, parece que desistiu da democracia. Três dos pré-candidatos do laboratório saíram da disputa (Sergio Moro, Luciano Huck e João Amoêdo) e juntos, os atuais postulantes – João Doria, Eduardo Leite, Henrique Mandetta e Rodrigo Pacheco – não conseguem encher uma kombi de eleitores, quanto mais derrotar os dois favoritos.

Sem candidato com voto, parte da turma da Terceira Via começou a imaginar um terceiro turno. Deixam a disputa presidencial para Bolsonaro e Lula e concentram os bilhões de reais o fundo eleitoral para eleger mais deputados e senadores. Com bancadas fortes, eles acreditam que seja quem for o presidente ele vai precisar negociar parte do poder com o Legislativo (a tese parte da premissa que o Brasil vai continuar sendo uma democracia plena caso Bolsonaro se reeleja, mas não vamos entrar nessa questão agora).

A novidade é que agora é uma nova operação, a votação de emenda constitucional criando o semipresidencialismo. É um sistema híbrido no qual o presidente é eleito pelo povo, mas suas funções estão limitadas à Defesa e Relações Exteriores. Neste sistema, o dia a dia do governo é tocado por um primeiro-ministro e um ministério, indicados pelo presidente, mas aprovado pelo Congresso. É a divisão de poderes que funciona tanto democracias como Portugal e Franças e em regimes autoritários, como a Rússia. A vantagem, segundo seus defensores, é que o sistema permitia a substituição de um governo sem o trauma de um processo de impeachment. Pura esparrela.

O projeto é uma manobra para dar mais poder a quem já tem demais, o presidente da Câmara, Arthur Lira. Reunindo o senso de oportunidade de Rodrigo Maia, o controle das votações de Michel Temer e a truculência de Eduardo Cunha, o deputado Arthur Lira está perto de ser o homem mais poderoso do Brasil. Sob seu tacão, o Congresso aprovou uma privatização da Eletrobras que vai aumentar as tarifas de luz, um fundo partidário de R$ 6 bilhões para os políticos gastarem como nunca na eleição e uma Lei de Diretrizes Orçamentárias que preserva R$ 3 bilhões em emendas a serem distribuídas para aliados sem fiscalização. Se aprovar o semipresidencialismo, Lira junta todo esse poder ao de indicar e, eventualmente, derrubar quando quiser o primeiro-ministro.

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Ah, mas a emenda que está em discussão prevê o semipresidencialismo só a partir de 2027! Verdade, mas você realmente acha que não vai surgir uma emenda antecipando a manobra para 2023, quanto toma posse o sucessor de Bolsonaro? Pode contar que sim. Ao inventar um sistema para tirar poderes do presidente, o Congresso se iguala aos instintos golpistas que todos enxergam em Jair Bolsonaro.

O Brasil teve dois plebiscitos para mudar o regime presidencialista, em 1963 e 1993. Em ambos, a sociedade preferiu o presidencialismo. Aprovar por uma votação do Congresso uma mudança tão radical, reprovada pela população, apenas porque você não gosta dos dois candidatos mais populares tem nome, chama-se demofobia, medo do povo.

A ojeriza que alguns políticos e empresários tem de Bolsonaro e Lula é legítima. Para isso, existem as eleições. Eles podem se unir em torno de um candidato e derrotar Bolsonaro e Lula nas urnas. Fazer isso em uma votação no Congresso é uma fraude contra o eleitor.

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