A mando do Juiz da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, a Polícia Federal fez hoje uma operação de busca e apreensão em endereços ligados ao senador José Serra, do PSDB, em uma investigação de caixa dois na eleição de 2014 obtida a partir de delações à Operação Lava Jato. De acordo com as investigações, Serra recebeu por fora R$ 5 milhões do fundador da empresa de seguro saúde Qualicorp, o bilionário José Seripieri Filho, que foi preso. A ação só recebeu alguma atenção da mídia porque o presidente do STF impediu a ação da PF no gabinete do senador, considerando que um juiz de primeira instância não tinha competência para dar a autorização. Uma questão jurídica menor.
Em outros tempos, qualquer ação da Lava Jato ganhava manchetes dos jornais. Nos últimos meses, a Lava Jato já fez operações contra Serra, o ex-governador Geraldo Alckmin e o deputado Paulinho da Força, todas recebidas com um bocejo pela sociedade, como a nova temporada ruim de uma série que já teve sucesso.
O que aconteceu para a Operação Lava Jato perder seu poder de mobilização? A resposta está na própria ação de hoje. As investigações sobre Serra são de 2014 e as informações estavam em posse dos procuradores desde a delação dos executivos da Odebrecht, em 2017. Depois dos ataques seriados contra alvos do PT, comandar buscas e apreensões sobre o PSDB com tanto atraso parece, no mínimo, uma tentativa do roteirista de corrigir pontas soltas na história do que uma real intenção de investigar crimes.
A comparação da Lava Jato com uma série de TV é intencional. Desde o princípio os procuradores de Curitiba se viam como personagens midiáticos. Posaram juntos copiando o cartaz do filme Os Intocáveis, contrataram empresas de palestras para se promover e mantinham uma relação de proteção mútua com muitos repórteres.
Tudo deu certo até o plot twist do final da temporada 2018, quando Sergio Moro aceitou ser ministro de Jair Bolsonaro. A partir daí ficou impossível não revisitar os atos da Operação como uma manipulação para favorecer um candidato frente aos outros. A revelação das trocas de mensagens dos procuradores pelo site Intercept Brasil eliminou as dúvidas sobre a imparcialidade.
A Lava Jato é um ponto de inflexão no combate à corrupção no Brasil. Da delação de doleiro, Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol colocaram sob o sol décadas de propinas, favores e doações ilegais entre empresários e agentes políticos na Petrobrás, Eletrobras e campanhas eleitorais.
Em um novo plot twist, foi justamente com Bolsonaro que a Lava Jato foi asfixiada. Por decisão do STF, os dados da operação terão de ser compartilhados com a Procuradoria Geral da República. Em breve, o STF deve julgar a parcialidade de Moro e a corregedoria do Ministério Público pode punir Dallagnol pelo power-point contra Lula. Em setembro, é provável que o procurador geral da República, o bolsonarista Augusto Aras, não renove o status extraordinária da Lava Jato e acabe com a operação.
Esse final melancólico de ações esparsas contra políticos em fim de carreira como Serra, Paulinho e Alckmin só pode ser mudado se os procuradores mudarem o foco das suas investigações para o governo atual, com as seguidas denúncias de financiamento empresarial ilegal da rede de militância digital. Mas para isso seria preciso começar uma nova Lava Jato.