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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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A cortina de fumaça de Bolsonaro

A guerra da vacina do presidente tirou a atenção dos militantes da indicação para o STF

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 22 out 2020, 16h19

Se Jair Bolsonaro estivesse sério na sua desconfiança sobre as vacinas chinesas, ele ordenaria o cancelamento do acordo de compra do Ministério da Saúde com os antivirais da AstraZeneca e a Universidade de Oxford, a serem encapsulados e distribuídos no Brasil através da Fiocruz. Com assinatura do próprio Bolsonaro em solenidade no Palácio do Planalto, o governo já gastou R$1,2 bilhão para ajudar no desenvolvimento da vacina AstraZeneca/Oxford, cuja matéria-prima é chinesa. Chi-ne-sa, da China, o mesmo país das vacinas da Sinovac, que tem parceria com o Instituto Butatan e o governo de São Paulo. 

Só que Bolsonaro não está falando sério. Ele não se importa se a vacina é da China ou da Namíbia, o que ele fez foi (1) atacar o governador João Doria e (2) gerar uma cortina de fumaça para reduzir a atenção à aprovação pelo Senado do desembargador Kassio Nunes Marques para o Supremo Tribunal Federal. Ele conseguiu.

Desde que Nunes Marques foi indicado no mês passado, as redes sociais bolsonaristas estavam em chamas. Nunes Marques era criticado por características reais (é articulado a políticos do Centrão) e imaginárias (não apoiaria a pauta religiosa contra direitos de mulheres e homossexuais). Foi a maior avalanche de críticas a Bolsonaro pelos seus eleitores desde a posse, maior inclusive do que a demissão de Sergio Moro.

A sessão no Senado na quarta-feira confirmou parte das suspeitas da milícia bolsonaristas. Nunes Marques foi elogiado efusivamente por líderes como Ciro Nogueira e Renan Calheiros. Nunes Marques foi aprovado por 57 votos contra 10, embora não conseguisse explicar o que a sua mulher fazia havia oito anos trabalhando em gabinetes de senadores do Piauí. 

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“Agora, o trabalho que ela desempenha, eu sabia, não sei lhe dizer… É alteração de gabinete toda hora… Mas o que eu sabia que fazia é exatamente… Essas respostas… Porque é vindo de lideranças, de questionamentos ao gabinete. Eu não sei se é o que ela desempenha, absolutamente”, balbuciou o agora novo ministro do STF

Mas e a vacina? Desde sábado, Bolsonaro estava informado que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, iria fechar um protocolo de compra das vacinas paulistas, uma vez que não há garantias de que a produção da AstraZeneca seja suficiente para imunizar todo o país. A decisão de desautorizar o ministro não foi um arroubo. Foi um gesto político para atrair de volta a militância bolsonarista que seguia amuada com o presidente. De quebra, ele colocaria Doria no canto do ringue. Por fim, mas não menos importante, Bolsonaro realmente acredita que a China criou o coronavírus em laboratório em um plano de guerra biológica para tornar o mundo refém de suas vacinas. 

Para o futuro, a saída para Bolsonaro pode ser dada pelo próprio Supremo. Os governadores vão recorrer ao STF para obrigar o governo a liberar todas as vacinas aprovadas nos testes da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), incluindo eventualmente as da AstraZeneca/Oxford e da Sinovac/Butatan, ambas com matéria prima chinesa. O presidente vai poder manter o discurso xenófobo para agradar a milícia digital, enquanto o Ministério distribui vacinas.

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