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Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming
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Lázaro Ramos fala a VEJA sobre troca da Globo pela Amazon

Em tempo de mudança, ator conta detalhes da explosiva distopia racial que marca sua estreia como cineasta

Por Marcelo Marthe Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h30 - Publicado em 22 out 2021, 06h00
GUINADA RADICAL - Lázaro Ramos: unir entretenimento e afirmação negra é o mantra do artista -
GUINADA RADICAL – Lázaro Ramos: unir entretenimento e afirmação negra é o mantra do artista – (Pedro Napolinario/.)

Entre os funcionários da Amazon circula um código divertido para falar das estrelas da TV nacional na mira do gigante do streaming. Para não dar bandeira em meio a contratações tocadas em sigilo, o falecido ator Paulo Gustavo era chamado de “Miami”, e a recém-chegada Ingrid Guimarães virou “Nova York”. De uns tempos para cá, no entanto, só se falava em “Atlanta” nas conversas entre executivos da empresa. O codinome, de fato, equivale a um troféu: semanas atrás, após doze meses de negociações, Lázaro Ramos encerrou sua relação de dezoito anos com a Globo para assumir o posto de artista da Amazon. A mudança assinala uma fase de transformação na vida de Lázaro. A troca de empregador dá uma pausa a sua associação inevitável na tela da TV com a esposa, Taís Araujo — ao lado de quem protagonizou o sucesso Mister Brau. Mas há mais no pacote: o ator acaba de se converter em diretor. Nessa função, tem um longa programado para estrear nos cinemas, o contundente Medida Provisória, visão distópica dos problemas raciais no país. A primeira missão na Amazon, já em filmagem, é também atrás das câmeras: a comédia romântica musical Um Ano Inesquecível — Outono. “Comecei a dirigir sem querer, mas logo senti prazer e confiança nisso”, disse o ator a VEJA (leia a entrevista).

Sinto o que sinto: e a incrível história de Asta e Jaser

A guinada de Lázaro Ramos ilustra as tentações com que o streaming vem seduzindo rostos conhecidos da TV. Num momento em que a regra na Globo é não renovar contratos de longo prazo e reduzir gastos, a emissora se empenhou em segurar o ator (Taís, aliás, ficou lá: acaba de renovar com a casa por três anos). Mas falou mais alto um certo encanto do streaming: a possibilidade de ampliar seu horizonte criativo. O contrato de três anos com a Amazon lhe permitirá não só atuar, mas dirigir produções para o Prime Video, fazer projetos para a plataforma de música da empresa e até criar programas para a Alexa. “Agora, posso brincar com tudo isso”, resume. O streaming acena, ainda, com a exposição global: já está programada sua participação em uma série com um astro de Hollywood.

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LIBELO - Taís e Enoch em Medida Provisória: visão contundente do racismo -
LIBELO - Taís e Enoch em Medida Provisória: visão contundente do racismo – (Mariana Vianna/.)

A primeira empreitada do ator no novo emprego é uma comédia amena, mas o elenco de jovens talentos negros de Outono deixa entrever outro fator de atração: a aposta da Amazon em programas que espelhem a diversidade. Para Lázaro, é uma oportunidade de avançar algumas casas na qualidade da inserção do negro no cinema e na TV. Ele defende que a inclusão racial no entretenimento deve superar a fase do “mi-mi-mi” e tornar-se mais efetiva — para além da luta política, afinal, está-se diante de um mercado promissor a explorar. Em 2017, o ator convenceu a Globo a enviá-lo a Los Angeles para ver de perto como funciona a indústria das produções sobre o tema. “Lá, visitei o set de This Is Us e passei um dia na Black Entertainment Television. Fui ao canal da Oprah Winfrey e falei com a chefe de criação dela”, diz. Unir entretenimento e afirmação virou seu mantra.

Caderno sem rimas da Maria

Prestes a completar 43 anos, Lázaro está mesmo na direção certa. Um exemplo disso é o seu primeiro longa como diretor. Lançado no Festival South by Southwest, nos Estados Unidos, e ainda sem data para estrear por aqui, Medida Provisória é uma explosiva distopia racial à brasileira. Baseado em uma peça teatral do começo dos anos 2010, o filme fala de um futuro muito parecido com o presente, no qual uma decisão do governo com o suposto intuito de “reparar” as injustiças da escravidão determina que todos os negros sejam despachados para a África de seus antepassados. Trata-se de um libelo explícito, com visão ácida da política e da polarização nas redes, mas que ganha nuances de sutileza e humor graças à direção arejada e às atuações marcantes. Nome quente do showbiz atual, o anglo-­brasileiro Alfred Enoch é o advogado que encarna a resistência e sua paixão na trama é, bem, Taís Araujo. Mister Brau se separou dela na Globo, mas ninguém é de ferro.

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Publicado em VEJA de 27 de outubro de 2021, edição nº 2761

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