Robô: até a palavra foi criada em laboratório
Não é todo dia que uma palavra de criação literária salta das páginas para invadir o vocabulário comum de uma língua. O que dizer, então, de um vocábulo saído da obra de um único escritor que acaba adotado virtualmente no mundo inteiro? Essa glória coube ao autor tcheco de ficção científica Karel Čapek (1890-1938), em […]
Não é todo dia que uma palavra de criação literária salta das páginas para invadir o vocabulário comum de uma língua. O que dizer, então, de um vocábulo saído da obra de um único escritor que acaba adotado virtualmente no mundo inteiro?
Essa glória coube ao autor tcheco de ficção científica Karel Čapek (1890-1938), em sua peça teatral de 1920 sobre autômatos de aparência humana criados por um certo Rossum, cientista genial. Chamada R.U.R. – Rossumovi univerzální roboti (“Os robôs universais de Rossum”), a obra trazia já no título o neologismo que imortalizaria o autor.
A palavra robô desembarcou no português em algum momento não identificado da primeira metade do século XX, certamente depois da chancela do inglês e do francês: montagens da peça estrearam com sucesso em Londres e Nova York em 1923; a tradução francesa é do ano seguinte.
A palavra é derivada do termo tcheco robota (“trabalho forçado”). Em artigo escrito para o dicionário Oxford, Čapek explicou que a princípio pensou em chamar suas criaturas de labori, com base no latim labor (“trabalho”), e que coube a seu irmão Joseph, também escritor, propor roboti, que lhe pareceu uma solução mais sonora e sugestiva.
Louve-se sua modéstia, mas parece que estamos, no mínimo, diante de um caso de autoria compartilhada: sem o sucesso da criação ficcional do dramaturgo, o neologismo não teria conquistado o mundo.
Exatamente como fazem, aliás, os robôs da peça de Čapek, que fogem ao controle da humanidade, desenvolvem sentimentos próprios e terminam por destruir a espécie que os criou – enredo que inspiraria uma infinidade de histórias de ficção científica.