Por que dizemos ‘custam caro’ em vez de ‘custam caros’?
“Li numa revista de prestígio, do tipo (cada vez mais raro) que trata a língua portuguesa com respeito, a seguinte frase: ‘Boas escolas custam caro’. Sei que a frase é considerada correta, mas sempre me atrapalhei com isso. Se as escolas são caras, no feminino e no plural, por que dizemos que custam caro, no […]
“Li numa revista de prestígio, do tipo (cada vez mais raro) que trata a língua portuguesa com respeito, a seguinte frase: ‘Boas escolas custam caro’. Sei que a frase é considerada correta, mas sempre me atrapalhei com isso. Se as escolas são caras, no feminino e no plural, por que dizemos que custam caro, no masculino e no singular? Que concordância é essa?” (Luiz Accioly)
Na frase trazida ao consultório por Accioly, a palavra caro não é um adjetivo que concorde com o substantivo escolas, mas um advérbio que modifica o verbo custar – e portanto é invariável.
Se a frase fosse, por exemplo, “boas escolas são caras”, teríamos um adjetivo, com todas as flexões correspondentes. Ocorre que caro se liga a custar do mesmo modo que o advérbio alto se liga a falar (“eles falam alto” e não “eles falam altos”), feio ao verbo brigar (“aqueles dois brigaram feio” e não “aqueles dois brigaram feios”) e direto aos verbos passar ou ir (“todos os meus alunos passaram direto” e “os carros foram direto para a oficina”, e não “todos os meus alunos passaram diretos” ou “os carros foram diretos para a oficina”).
Em todos esses casos, temos a forma mais curta do advérbio, sem o sufixo mente que deixaria mais explícita a ligação da palavra com o verbo. Trata-se da mesma forma assumida pelo adjetivo, o que explica a confusão de Accioly.
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