O verbo ‘empatizar’ existe?
“Olá, Sérgio! Deparei-me com uma dúvida: existe o verbo ‘empatizar’? O Priberam diz que sim, mas procurei noutras fontes e não encontrei nada. Grato.” (Júlio César Leal) O verbo trazido por Júlio César, “empatizar”, é o que se pode chamar de palavra emergente. Existir, existe acima de qualquer dúvida, mas ainda luta para ganhar “foros […]
“Olá, Sérgio! Deparei-me com uma dúvida: existe o verbo ‘empatizar’? O Priberam diz que sim, mas procurei noutras fontes e não encontrei nada.
Grato.” (Júlio César Leal)
O verbo trazido por Júlio César, “empatizar”, é o que se pode chamar de palavra emergente. Existir, existe acima de qualquer dúvida, mas ainda luta para ganhar “foros de cidade”, como diria Machado de Assis.
Os principais dicionários brasileiros não registram “empatizar”. Além do citado Priberam, português, encontrei o verbo apenas no “Dicionário de Usos do Português do Brasil”, de Francisco S. Borba, com dois exemplos colhidos em textos da “Folha de S.Paulo”. Em Portugal, seu uso é um pouco mais disseminado.
A matriz de “empatizar” é muito provavelmente o inglês empathize (ou empathise), mas não se deve exagerar sua estrangeirice: faz tempo que o substantivo “empatia” (também este do inglês, empathy) tem boa acolhida nos grandes dicionários e no vocabulário dos falantes cultos. “Empatizar” é nada mais do que sentir ou provocar empatia.
Empathy foi como se traduziu para o inglês, no início do século XX, o termo alemão Einfühlung, por sua vez inspirado no grego empatheia, “paixão”.
A palavra alemã tinha sido cunhada meio século antes pelo filósofo Rudolf Lotze (1817-1881) no campo da teoria da arte. Nomeava certa qualidade necessária à apreciação de uma obra artística: a capacidade que deve ter o receptor de projetar nela sua própria personalidade.
“Empatia”, a capacidade de compreender emocionalmente algo ou alguém, leva no Houaiss a data relativamente recente de 1958 – antes disso, o português se virava com “simpatia”, palavra velha de quatro séculos, que também tem tal sentido entre suas muitas acepções.
No entanto, “empatia” não demorou a se fazer um termo indispensável, transbordando do vocabulário da estética para ganhar sentidos precisos em diversas áreas das ciências humanas, em especial a psicologia, e daí para a linguagem comum.
“Empatizar”, verbo transitivo indireto que rege a preposição “com”, parece um passo natural nessa história de sucesso vocabular. Aposto que em pouco tempo nossos dicionários mais vetustos serão obrigados a lhe abrir as portas.
Mas atenção: enquanto isso não ocorre, recomenda-se usar a palavra com cuidado em contextos formais ou caretas – como provas aplicadas por professores pouco inclinados à empatia com os linguisticamente inquietos.
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