O que a gravidez tem a ver com a gravidade
Grávida, mas leve: Leila Diniz em 1971 (foto de Joel Maia) “Olá, Sérgio! Sempre quis saber se os vocábulos ‘gravidez’, ‘grave’ e ‘gravidade’ possuem um parentesco etimológico. Na prática, desejada ou não, a gravidez é um dos momentos mais graves da vida de uma mulher. Esse estado também exige que ela se readapte à força […]
“Olá, Sérgio! Sempre quis saber se os vocábulos ‘gravidez’, ‘grave’ e ‘gravidade’ possuem um parentesco etimológico. Na prática, desejada ou não, a gravidez é um dos momentos mais graves da vida de uma mulher. Esse estado também exige que ela se readapte à força da gravidade, senão cai e a situação fica mais grave!” (Sabine Richter)
Brincando, brincando, Sabine acabou por dar conta dos principais descendentes – sim, todas essas palavras são primas – do adjetivo latino gravis, que significava em primeiro lugar “pesado, carregado”.
Aquele gravis acabou por adquirir no próprio latim, figuradamente, sentidos um pouco distintos, mas todos ligados à ideia de peso, que nosso adjetivo grave conserva até hoje. Uma pessoa grave é séria, circunspecta, vergada ao peso de suas preocupações. Uma situação grave é pesada, dura, carregada de possibilidades funestas que demandam a maior seriedade.
De gravis tirou-se, ainda no latim, o substantivo gravitas, gravitatatis, que vinha a ser antes de mais nada o próprio peso. Como acepções secundárias, a palavra tinha, além de todas as que se ligavam aos sentidos expostos no parágrafo anterior, a de “gravidez, prenhez”, na definição do dicionário Saraiva. Gravidus queria dizer prenhe. Gravidare era emprenhar.
Como se chegou a isso? Não tanto porque se considerasse a gravidez uma situação grave no sentido de preocupante, mas pela própria ideia original de gravis – creio que o peso da barriga de uma mulher grávida fale por si. Curiosamente, gravidez é uma palavra relativamente recente em português, datada de meados do século XIX e formada em nossa língua mesmo, pela junção do adjetivo grávido ao sufixo -ez, para tomar (sobretudo quando se fala de seres humanos) o lugar do velho substantivo “prenhez”.
Das palavras citadas por Sabine, gravidade na acepção de “atração que a Terra exerce sobre um corpo material colocado sobre sua superfície, em seu interior ou em sua vizinhança” (Houaiss) é a única ausência no repertório dos nossos tataravós romanos. Também motivado pela ideia de peso que deu origem a tudo isso, tal sentido teria que esperar até o século XVII para nascer – cerca de trezentos anos após a chegada da palavra gravidade ao português.