O que a claque tem a ver com a claquete?
“Minha curiosidade é sobre a palavra claque, que às vezes eu vejo usada no noticiário da política para falar das pessoas que um político paga para aplaudir nos comícios. Gostaria de saber de onde ela vem, se é uma palavra legítima da nossa língua e também se tem alguma coisa a ver com claquete, aquela […]
“Minha curiosidade é sobre a palavra claque, que às vezes eu vejo usada no noticiário da política para falar das pessoas que um político paga para aplaudir nos comícios. Gostaria de saber de onde ela vem, se é uma palavra legítima da nossa língua e também se tem alguma coisa a ver com claquete, aquela plaquinha usada no cinema. Ou essa plaquinha seria, na verdade, ‘plaquete’?” (Maria Aparecida Ramos)
A palavra claque foi dicionarizada pela primeira vez em português em 1881, por Caldas Aulete, segundo a datação do Houaiss. Tinha já então a acepção que, levemente ampliada, Maria Aparecida encontra até hoje no noticiário político (e, acrescento eu, não apenas nele): “grupo de espectadores aliciados ou combinados para aplaudir ou vaiar determinado espetáculo ou intérprete”.
Trata-se de um galicismo, um termo que fomos buscar no francês, língua na qual o substantivo claque existia desde o século XIII, mas a princípio com sentido diferente: o de estalo, ruído seco, de óbvia origem onomatopaica. Claque chegou ao sentido que importamos por meio de uma série de extensões semânticas: no século XVIII a de aplauso (claquer é aplaudir), e um século mais tarde a de “grupo de pessoas pagas para aplaudir com entusiasmo um espetáculo ou artista”, nas palavras do Trésor de la Langue Française.
Os puristas, claro, torceram o nariz para a adoção de claque em português. Propuseram que fossem empregadas em seu lugar expressões como “aplaudidores combinados” ou “aplaudidores comprados”. Por razões evidentes de concisão, claque venceu a disputa. O neologismo “venaplauso”, forma reduzida de “aplauso venal”, chegou a ser proposto pelo latinista brasileiro Castro Lopes, notório caçador de estrangeirismos, mas caiu no esquecimento.
Claquete (e não plaquete, que é outra coisa) tem a mesma origem. O termo francês claquette, que também é antigo, nomeava a princípio um tipo de matraca, instrumento de madeira destinado a produzir barulho, e só em meados do século XX – mais precisamente em 1952 – ganhou a acepção cinematográfica que acabaríamos por importar: a de plaquinha com uma articulação na parte de cima que, batida diante da câmera no início da filmagem de cada cena, permite a sincronização de som e imagem.
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