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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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De onde vem a expressão ‘fim da picada’?

“Olá, Sérgio, tudo bem? Parabéns pelo blog, sempre muito interessante. Tenho curiosidade sobre a origem da expressão ‘fim da picada’. Veio do mundo das trilhas ou do mundo das drogas?” (Eduardo Vieira dos Santos) Embora a origem de “fim da picada”, como a da maioria das expressões idiomáticas, esteja envolta em brumas, pode-se afirmar com […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 05h36 - Publicado em 15 ago 2013, 16h27

“Olá, Sérgio, tudo bem? Parabéns pelo blog, sempre muito interessante. Tenho curiosidade sobre a origem da expressão ‘fim da picada’. Veio do mundo das trilhas ou do mundo das drogas?” (Eduardo Vieira dos Santos)

Embora a origem de “fim da picada”, como a da maioria das expressões idiomáticas, esteja envolta em brumas, pode-se afirmar com segurança que a picada em questão é a trilha aberta no mato a golpes de facão, que pica árvores, galhos e folhas para abrir caminho, e não, como especula Eduardo, o pico, a agulhada dos usuários de drogas injetáveis.

A acepção trilheira de picada, segundo o Houaiss, leva a data de 1789. Isso é significativo, pois bastaria a antiguidade – além da ampla circulação pelos países lusófonos – de uma expressão que me lembro de ser usada por meu avô para afastar a hipótese de uma ligação com a subcultura das drogas.

Foi só a partir de meados do século passado, sobretudo dos anos 1960, que esta passou a contrabandear para o vocabulário geral palavras e expressões que, por nascerem na gíria do submundo, tendem a ter alcance geograficamente restrito.

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A picada combina mesmo é com o ambiente rural e a simplicidade radical das imagens (pau, pedra, toco, caco de vidro, sol) que Tom Jobim colecionou em sua clássica canção “Águas de março”:

É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada.

É curioso que os principais dicionários brasileiros deem pouca atenção a “fim da picada”, uma expressão que até Carlos Drummond de Andrade usou. No Houaiss e no Aurélio, a locução aparece no pé do verbete fim, como simples variante de “ser o fim” – que o Aurélio, multiplicando-se em palavras para tentar dar conta de uma expressão-ônibus, algo que tem sentido necessariamente difuso, define como “ser (uma coisa) extremamente desagradável, imprudente, penosa, absurda etc.; ser (alguém) muito desagradável, exigente, inconveniente, mal-educado, desonesto, burro, chato etc.”.

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Gosto mais da solução do dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, que arquiva a expressão idiomática “ser o fim da picada” na gaveta do verbete “picada” e a define simplesmente como “ser o limite extremo do que se considera admissível ou tolerável”.

Pois. O fim da picada nada mais é que o fim do caminho, o ponto além do qual já não se pode ou não se quer avançar.

*

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