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Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

A hora e o lugar do ‘sic’

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Por Sérgio Rodrigues
1 set 2014, 15h44 • Atualizado em 31 jul 2020, 03h10
  • “Caro Sérgio Rodrigues: em primeiro lugar, quero felicitá-lo pelo ótimo trabalho que está realizando na tua coluna Sobre Palavras. Gostaria de ler tua explicação – que sempre é muito clara e bem escrita – sobre o uso do advérbio ‘sic’ (o autor da explicação na Wikipédia divagou). Atenciosamente.” (Fábio Gomes)

    O verbete da Wikipedia mencionado por Fabio tem por base um artigo de 2009 do professor gaúcho Cláudio Moreno e traz conhecimentos bastante sólidos e abrangentes sobre o uso do advérbio latino sic, que significa “assim, deste modo” e que está na origem do nosso prosaico “sim”.

    Quase sempre usado em itálico e entre colchetes (às vezes, em especial na imprensa, também entre parênteses), o sic é uma arma sucinta e poderosa à disposição do autor de um texto na hora de enfatizar que está fazendo uma transcrição literal, sobretudo quando esta contém um erro gramatical ou mesmo uma opinião da qual ele discorde: “O homem disse que o produto custava ‘dez real’ [sic]”; “A ‘superioridade de Maradona sobre Pelé’ [sic] foi defendida pelo jornal argentino com um infográfico cômico”.

    Consta que o sic goza de boa saúde nos discursos em que tem emprego mais técnico, como o acadêmico e o jurídico, mas acredito que, na linguagem jornalística, seu tempo áureo tenha passado – como passou o do abuso de fórmulas latinas em geral. Um bom sic ainda tem seu lugar, inclusive como elemento de zombaria, mas deve ser empregado com parcimônia. Mal usado, pode soar apenas esnobe ou arrogante, caso em que não custa nada substituí-lo por outros modos de indicar uma correção ou uma discordância.

    Reproduzo abaixo um trecho da crônica sobre o sic – esta bem mais impressionista – que publiquei em meu livro “What língua is esta?”, de 2005.

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    *

    Sempre impliquei com o sic. É bem provável que na raiz dessa antipatia esteja a ignorância que me levou, menino, não sei se por autossuficiência ou mero espírito lúdico, a tentar adivinhar o que significava aquela palavrinha enigmática, em vez de recorrer a alguma autoridade familiar ou escolar. O problema é que a coisa parecia ser de uma gratuidade absoluta. De repente, sem mais nem menos, lá vinha o sic, quase sempre grafado naquelas letras inclinadas que só muitos anos mais tarde eu aprenderia a identificar com a ideia de grifo ou itálico. Mas não ainda, não já: tudo era nebuloso, não fosse aquele um tempo em que já não se ensinava latim na escola, mas ainda se abusava de citações e outros cacoetes latinos nos textos de jornal.

    No entanto, se a tarefa era dura, não me faltava perseverança. Saquei logo que o sic tinha a ver com alguma sacanagem, alguma ironia ou gozação, porque só aparecia quando o autor do texto citava outra pessoa. Fui constatando – ou mais intuindo que constatando – que o sic vinha sempre depois de um erro, um escorregão de ortografia ou gramática que, por meio dele, ficava denunciado. O sic, concluí, era uma risada, uma risada curta. Um deboche. Um dedo-duro e, ao mesmo tempo, um lava-mãos do autor. Tudo aquilo que de fato ele é. Como se vê, eu tinha partido da mais completa ignorância para decifrar o sic de cabo a rabo, dos pés à cabeça, meu único e embaraçoso erro sendo o de, talvez por influência do cartunesco hic, imaginar que sic era a representação de um soluço sarcástico. Seja lá o que isso for.

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    Mais tarde, claro, aprendi que ele é um advérbio latino. Que significa simplesmente “assim, deste modo”. Que por tradição é usado quando, numa citação, há a necessidade de frisar que se trata de transcrição literal, daí soar meio estranha ou ser francamente errada mesmo. Quer dizer, sic ficou sério, antipático, foi perdendo a graça.

    *

    Envie sua dúvida sobre palavra, expressão, dito popular, gramática etc. Às segundas, quartas e quintas-feiras o colunista responde ao leitor na seção Consultório. E-mail: sobrepalavras@todoprosa.com.br (favor escrever “Consultório” no campo de assunto).

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