A diferença entre o presente e o presente
“Caro Sérgio, meus parabéns pelo seu blog! Gostaria de deixar a seguinte pergunta: como se deu a origem da palavra ‘presente’, utilizada quando damos algo a alguém, diferentemente de quando estamos ‘presentes’? Abraços.” (Wanderson Neves) Motivada pela consulta de Wanderson, a curiosidade etimológica de hoje volta no tempo. No dia 22 de fevereiro de 2011, […]
“Caro Sérgio, meus parabéns pelo seu blog! Gostaria de deixar a seguinte pergunta: como se deu a origem da palavra ‘presente’, utilizada quando damos algo a alguém, diferentemente de quando estamos ‘presentes’? Abraços.” (Wanderson Neves)
Motivada pela consulta de Wanderson, a curiosidade etimológica de hoje volta no tempo. No dia 22 de fevereiro de 2011, com a mesma pulga atrás da orelha, escrevi aqui o seguinte:
No dia do aniversário de uma pessoa para lá de querida, mergulho nos livros para entender por quais caminhos a palavra presente – do latim praesentis, “que está à vista, ao alcance da mão; manifesto, imediato” – chegou a ter sentidos tão diferentes quanto “tempo atual”, que é óbvio, e “oferenda, regalo, mimo”, que é bem menos evidente.
Os etimologistas que consultei, como Antenor Nascentes e Silveira Bueno, não explicam essa ampliação semântica – e o Houaiss, habitualmente um atento compilador etimológico, também se cala. Tais consultas me informaram apenas o que eu já supunha: que a palavra é uma só, com acepções diversas.
Segundo o clássico dicionário Saraiva, não foi no próprio latim que o presente ganhou de presente o sentido de regalo. Sendo assim, é curioso que a palavra present tenha desembarcado no inglês com esse significado mais de dois séculos antes de, por volta de 1500, passar a significar também “tempo atual”.
A explicação parece estar no francês. Data de cerca de 1140 o emprego de présent com o sentido de oferenda, substantivo formado regressivamente a partir do verbo présenter, “apresentar”. Ou seja: tornar presente, por ao alcance da vista e da mão, como se viu no primeiro parágrafo ali em cima.
O que fecha o círculo dos sentidos tão bem quanto um laço de presente.