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Política com Ciência

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A partir do que há de mais novo na Ciência Política, este blog do professor e pesquisador da FGV-RJ analisa as principais notícias da política brasileira. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

Será a Lava Jato nosso Watergate?

Todos conhecem o escândalo de Watergate – que resultou na renúncia do presidente norte-americano Richard Nixon em agosto de 1974 – pelo sufixo que caracteriza, desde então, escândalos gringos. Watergate é um complexo empresarial em Washington D.C. onde ficava a sede nacional do Partido Democrata – o partido rival do republicano Nixon. Em junho de 1972, […]

Por Sérgio Praça Atualizado em 5 jun 2024, 00h10 - Publicado em 23 fev 2016, 20h20

Todos conhecem o escândalo de Watergate – que resultou na renúncia do presidente norte-americano Richard Nixon em agosto de 1974 – pelo sufixo que caracteriza, desde então, escândalos gringos.

Watergate é um complexo empresarial em Washington D.C. onde ficava a sede nacional do Partido Democrata – o partido rival do republicano Nixon. Em junho de 1972, cinco homens foram pegos invadindo o escritório dos democratas. Após dois anos de investigações iniciadas pelos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, do “Washington Post”, descobriu-se um emaranhado de ilegalidades (“ratfucking”, segundo Donald Segretti, um dos pilantras) originado da Casa Branca. (Para mais informações, nada supera os livros  de Woodward e Bernstein.)

O escândalo que derrubou Nixon foi o acontecimento político mais importante dos últimos cinquenta anos. A crença dos americanos em sua Constituição foi reforçada: ninguém estaria acima da lei – nem mesmo o presidente.

A Operação Lava Jato é nosso Watergate? Há, é claro, várias semelhanças e diferenças. Por motivos de espaço, vamos ver duas coisas comuns e uma grande diferença.

Tanto a Lava Jato quanto Watergate revelaram estratégias ilegais de campanha com o objetivo de limitar a competição eleitoral. Se no escândalo norte-americano os republicanos buscaram sabotar a escolha do candidato democrata das eleições presidenciais de 1972, no Brasil o dinheiro ilegal do cartel de empreiteiras da Petrobras foi em parte embolsado por burocratas e políticos e em parte usado para campanhas eleitorais. Vários partidos estão envolvidos, principalmente o PT, PMDB e PP. Qualquer esquema corrupto encarece na medida em que mais gente se envolve.

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Além disso, os dois esquemas mostraram-se bem-sucedidos em sufocar a oposição, ao menos a curto prazo. Após a renúncia de Nixon, o deputado federal Gerald Ford, também republicano, assumiu a presidência até as eleições de 1976. (O vice de Nixon, Spiro Agnew, havia renunciado em 1973 por causa de um escândalo não relacionado a Watergate.) O democrata Jimmy Carter venceu em 1976, mas não conseguiu se reeleger, deixando os EUA nas mãos dos republicanos até Bill Clinton ganhar em 1992. Ou seja: o Partido Democrata não aproveitou, como poderia, as oportunidades abertas com a renúncia de Nixon.

Algo semelhante está acontecendo no Brasil com o PSDB – considerando, óbvio, que nossa competição eleitoral envolve muitos outros partidos e é mais complexa do que a norte-americana. De acordo com pesquisa do Instituto Ipsos, sobre a qual já escrevi, tanto o PMDB quanto o PSDB são vistos como partidos que “defendem os ricos” e não contam com a simpatia de boa parte do eleitorado. Por quê? Entre outros motivos, por falta de coordenação entre seus principais expoentes, como os senadores Aécio Neves e José Serra e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

É inacreditável, por exemplo, que haja uma disputa interna tão mal resolvida para saber quem vai ser o candidato tucano à prefeitura de São Paulo. Enquanto Andrea Matarazzo, João Dória e outros políticos pouco carismáticos disputam a indicação do partido, o prefeito Fernando Haddad (PT) governa sem oposição. Não será surpresa ele ser reeleito.

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A principal diferença entre a Lava Jato e Watergate é a maneira como os escândalos foram revelados. Para desespero de Woodward, Bernstein e os editores do “Washington Post”, Nixon foi reeleito em 1972 com 60,7% dos votos, a quarta maior margem de diferença na história do país. O escândalo demorou para pegar. Aconteceu aos poucos e com imenso mérito dos jornalistas – não só do “Washington Post”, mas de outros jornais e revistas.

Nesse aspecto, a Lava Jato é diferente. Embora a imprensa tenha mérito em revelar informações relevantes, elas se originam de relatórios do Ministério Público e Polícia Federal – ou seja, do que o cientista político Carlos Pereira (FGV-RJ) chama de “competição virtuosa” entre instituições de controle.

Além disso, a principal figura da operação não é um jornalista, mas o juiz Sérgio Moro. O equivalente watergatiano seria John Sirica, o juiz que presidiu o julgamento dos invasores da sede do Partido Democrata e depois ordenou Nixon a entregar as gravações que comprometeriam irremediavelmente o mandato do presidente. (Uma conversa gravada em 23 de junho de 1972 entre Nixon e diretores da CIA mostra, sem deixar dúvida, que o presidente tentou obstruir a justiça.)

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Não posso esquecer, claro, do “Garganta Profunda”, a famosíssima fonte de Bob Woodward cuja identidade seria revelada apenas após sua morte. Mas Mark Felt, diretor do FBI (a Polícia Federal deles), revelou-se à revista “Vanity Fair” em 2005, ganhando uns trocados. O livro “Leak: Why Mark Felt Became Deep Throat”, de Max Holland, mostra que a motivação de Felt era antes carreirista do que republicana – em seu sentido amplo.

(Entre em contato pelo meu site pessoal, Facebook e Twitter)

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