O roto falando do esfarrapado
O Senado foi irresponsável... mas Bolsonaro é parte do problema
A derrubada, no Senado, do veto presidencial ao reajuste dos servidores cria uma despesa de até 120 bilhões de reais. Além de uma traição ao que estava combinado com o governo, foi uma decisão populista e completamente irresponsável. Jair Bolsonaro afirmou que se o veto for derrubado também na Câmara, o país se torna ingovernável.
Bolsonaro tem razão. O aprofundamento do desequilíbrio fiscal tende a inviabilizar não só o governo como o país.
Ocorre que Bolsonaro é parte do problema.
O governo mandou a PEC emergencial, que corta gastos, para o Congresso no ano passado, mas, de lá para cá, nada fez para aprová-la.
O ministério da Economia tem uma reforma administrativa, que corta gastos, pronta desde o ano passado, mas Bolsonaro, que a engavetou na época, avisou que só vai mandá-la para o Congresso no ano que vem — e ninguém acredita que isso ocorrerá antes da eleição de 2022.
Ao se aliar ao centrão, Bolsonaro abriu mão do esforço de reformar o Estado e de cortar gastos. Há uma aliança entre vários ministros para criar novos gastos governamentais (supondo que isso tirará o país da recessão) que conta com o apoio do presidente. O auxílio emergencial abriu os olhos de Bolsonaro para o potencial eleitoral do clientelismo, e todo mundo sabe que, em busca de votos, ele pretende gastar a rodo.
Há uma debandada no ministério da Economia porque lá ninguém mais acredita que Bolsonaro pretenda reformar o que quer que seja.
Então, se Bolsonaro quer que o Congresso se comporte de maneira responsável, reclamar não adianta.
É preciso dar o exemplo.