O próximo presidente
Bolsonaro é o favorito para ir ao segundo turno com Lula, mas há o risco Moro
Conhecido por todo o eleitorado, que tem saudade das vacas gordas de quando ele era presidente, e em primeiro lugar disparado nas pesquisas, Lula é franco favorito. É virtualmente impossível que não esteja no segundo turno (petistas torcem por uma vitória do PT no primeiro turno, mas isso não ocorreu nem quando Lula estava no auge da popularidade, é improvável que ocorra agora).
Isolado em segundo, Bolsonaro tem um Auxílio Brasil turbinado, a caneta para distribuir benesses e alta competência nas redes sociais. É o favorito para enfrentar Lula, mas seu governo é um desastre e as perspectivas para 2022 são péssimas: nunca um presidente correu tanto risco de ficar de fora do segundo turno.
Com dois dígitos nas pesquisas, Sergio Moro está consolidado no terceiro lugar e crescendo. Ciro Gomes é de esquerda, não tira votos do capitão e praticamente não tem chance. João Doria até hoje não conseguiu transformar a vacina em voto e conta com a hostilidade de grande parte de seu partido: tem de operar um milagre para se tornar competitivo. Os demais parecem mais candidatos a vice do que outra coisa.
Bolsonaro foi eleito por votos ultradireitistas, antissistema e antipetistas. A ultradireita, núcleo duro bolsonarista (12% ou 15% do eleitorado), está fechada com o presidente, mas Sergio Moro veste o figurino de antissistema melhor do que Bolsonaro e é menos repugnante para antipetistas. Espaço para suplantar o capitão o ex-juiz tem.
“A terceira via deveria ser alguém que pudesse superar a polarização e reconciliar o país”
A terceira via deveria ser alguém sem vínculo com Bolsonaro ou Lula, que pudesse superar a polarização e reconciliar o país consigo mesmo. Sergio Moro é o oposto disso: algoz de Lula e rompido com Bolsonaro, é odiado pela esquerda, considerado traidor pela direita e visto com desconfiança pelos liberais. Está no cerne da polarização.
Apesar de não ser a terceira via ideal, se Moro se mostrar capaz de ultrapassar o presidente, precipitará o “voto útil” e receberá uma enxurrada de votos. Entre colocar Bolsonaro no segundo turno e apoiar o ex-juiz — e talvez participar de seu governo —, políticos de centro ou de centro-direita, incluindo até Doria, deverão preferir a segunda alternativa. (Sem opção, Ciro, quem sabe, irá para Paris mais cedo em 2022.)
Antibolsonaristas de todas as cores, incluindo parte da esquerda não petista, votarão em qualquer um que possa derrotar Bolsonaro. E uma parcela da ultradireita pode preferir Moro porque sua chance de vencer Lula é maior do que a do capitão. De fato: em um segundo turno, Moro atrairá desde bolsonaristas radicais até setores da centro-esquerda, um espectro muito mais amplo do que o de Bolsonaro ou o de Lula.
Lula poderia neutralizar a vantagem de Moro com um discurso moderado, mas tem preferido defender ditadores, dizer que o mensalão e o petrolão não existiram e que a Lava-Jato foi uma conspiração dos EUA, e desancar a responsabilidade fiscal. (O único aceno de Lula ao centro é a negociação com Geraldo Alckmin, que pouco agrega a sua candidatura.)
O histórico do PT é conhecido: quando foi moderado, venceu; quando radicalizou, perdeu. Lula está correndo um risco desnecessário. Sergio Moro agradece.
Publicado em VEJA de 15 de dezembro de 2021, edição nº 2768