O erro definitivo?
A conclamação para o "golpe" levou muita gente a se posicionar contra Bolsonaro

Economia, saúde, educação, meio ambiente, relações externas, ciência, cultura… não há caso registrado de presidente que tenha cometido tantos erros, em tantas áreas, quanto o atual.
Há indícios, no entanto, de que a conclamação para o “golpe” (ou seja lá o que for) possa ter sido não apenas o maior dos erros de Jair Bolsonaro, mas o erro definitivo.
Ao ameaçar abertamente a democracia, ao afirmar que pretende partir para o tudo ou nada, a vitória ou a morte, Bolsonaro obrigou diversos segmentos da sociedade a se posicionar. Nas últimas semanas, vimos uma enxurrada de manifestos contra o governo e o presidente. E muitos vieram de entidades que, por um motivo ou por outro, raramente criticam o governo, como a indústria, o setor bancário, o agronegócio, as organizações religiosas.
Empresários mineiros batizaram seu documento de “Segundo Manifesto dos Mineiros”, em alusão ao repúdio feito em 1943 à ditadura de Getúlio Vargas, e é sintomático que dele conste a assinatura do empresário Salim Mattar, até ontem bolsonarista-raiz. É revelador também que os auxiliares do empresário Luciano Hang, o mais esfuziante dos bolsonaristas, o estejam aconselhando a abandonar o presidente. Bolsonaro se tornou radiativo: estar associado a ele se tornou caro e perigoso demais.
(Militares, naturalmente, não se manifestaram, mas observaram a movimentação e entenderam que Bolsonaro perdeu o apoio de todos os segmentos que interessam.)
Independentemente do que acontecer no 7 de setembro, o estrago para Bolsonaro está feito e é definitivo: quem desembarca de um projeto de (des)governo não reembarca.
E ninguém se reelege — ou sequer consegue governar — com tantos pesos pesados contra.