Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Continua após publicidade

O abutre e a carniça

O apoio do Centrão não é barato, incondicional ou eterno

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 jul 2021, 08h35 - Publicado em 23 jul 2021, 06h00

Bolsonaro chamou o senador Ciro Nogueira, um dos principais caciques do Centrão, para a Casa Civil.

É incontornável: quanto maior o desgaste do presidente na CPI e nos índices de aprovação, maior é a necessidade de apoio, e mais o presidente loteia seu governo e abre espaço ao Centrão.

Nogueira andava afastado de Bolsonaro ultimamente. Resistiu a ceder a legenda ao presidente, reconheceu o direito de Renan Calheiros de ser relator da CPI, afastou-se das sessões da comissão para não defender o indefensável. Agora inverte a ponta e se joga de corpo inteiro nos braços de Bolsonaro, onde já está seu correligionário Arthur Lira, presidente da Câmara, que hoje bloqueia nada menos do que 126 pedidos de impeachment.

Com Ciro (e Lira), Bolsonaro aumenta o apoio parlamentar, reduz o risco de impeachment, encomenda uma legenda para 2022 e monta o quartel-general da campanha. Quem sabe até emplaca um candidato a vice. Ciro e Lira ganham vantagens e prometem boa vontade. Só. Por um preço. Por um tempo.

O chiste do general Augusto Heleno (“se gritar pega Centrão, não fica um, meu irmão”) vai se tornando literalmente verdadeiro. Está cada vez mais difícil encontrar no governo alguém que não esteja ligado ao Centrão — até os militares governistas se tornaram uma espécie de Centrão verde-oliva, e o próprio Heleno diz que “nem reconheço hoje a existência desse ‘Centrão’”.

Continua após a publicidade

“O Centrão é um abutre com apetite insaciável, tende a engolir o governo, o qual, quanto mais frágil fica, mais cede, e quanto mais cede, mais frágil fica”

A Casa Civil é o ministério mais importante, administra todos os projetos e cargos, cuida da relação com o Congresso. A pedra estava cantada desde a prisão de Fabrício Queiroz, e finalmente aconteceu: Bolsonaro entregou de vez a administração do galinheiro ao Centrão, isto é, à raposa.

A imagem do galinheiro entregue às raposas é adequada, mas há uma metáfora zoológica mais apropriada: a do capitalista abutre. Venture capitalist, ou capitalista de risco, é quem investe em empresas iniciantes com boas perspectivas e lucra com seu crescimento. Já o vulture capitalist, o capitalista abutre, financia empresas em sérias dificuldades (as carniças), que ninguém quer. As condições de financiamento exigidas pelo abutre são tão draconianas que com frequência matam a empresa. No fim, a empresa quebra, o dono fica pobre e o abutre sai ileso e rico.

O Centrão é um abutre com apetite insaciável, quer tudo isso e o céu também, tende a engolir o governo, o qual, quanto mais frágil fica, mais cede, e quanto mais cede, mais frágil fica. O apoio do Centrão é necessário para a sobrevivência a curto prazo do governo, mas não é barato, incondicional ou eterno.

Continua após a publicidade

O Centrão sabia que o voto impresso era a preparação do golpe, e o enterrou. Sabe que as perspectivas eleitorais de Bolsonaro são sofríveis, e não se compromete a apoiá-lo. O “guarda bom” Arthur Lira segura o impeachment, mas seu vice, o “guarda mau” Marcelo Ramos, ameaça votá-lo. Ao fim e ao cabo, o Centrão apoiará o presidente no que for bom para o Centrão, enquanto for bom para o Centrão.

Até quando, não se sabe. Depende da economia, da pandemia, da CPI, das manifestações de rua, de muitos outros fatores. Até da chuva.

O que se sabe é que carniça não é coisa que pare de apodrecer.

Publicado em VEJA de 28 de julho de 2021, edição nº 2748

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.