Da pirraça ao chá de cadeira
A pirraça de Trump ficará por isso mesmo; a de Jair Bolsonaro, não.
Fosse Trump qualquer outro presidente, os comentaristas políticos estariam fazendo um balanço de seu governo e discutindo seu legado e seu futuro.
Como Trump é Trump, o que vem sendo discutindo nos últimos dias é se ele continuará em negação, se se recusará a deixar a Casa Branca, se precisará ser retirado à força, se tentará atrapalhar seu sucessor, se baixará decretos para favorecer a seus parentes e a si mesmo. Trump tirou algumas das dúvidas ao demitir o secretário de Defesa (pelo Twitter, é claro) e inviabilizar o processo de transição.
Já o presidente brasileiro parece acreditar que as pirraças de Trump têm o condão de mudar a realidade e faz a pirraça de se negar a reconhecer a vitória de Joe Biden. Todos os líderes importantes do mundo — incluindo líderes populistas de extrema direita que Bolsonaro admira, como Viktor Orbán e Benjamim Netanyahu — já cumprimentaram Biden, mas o Brasil se esforça para alcançar a posição, tão desejada por Ernesto Araújo, de pária internacional.
Jair Bolsonaro é um homem inconsequente que acredita que pode fazer o que quiser sem que haja maiores consequências. Mas atos — e omissões — têm consequências.
Quando finalmente reconhecer o governo Biden (o que é inevitável) e tentar renegociar as tarifas no aço e no alumínio impostas por Trump (o que é necessário), Araújo será encaminhado a um assistente administrativo júnior da Subsubseção de Repúblicas de Bananas da Seção de América Latina da Subsubsecretaria do Hemisfério Ocidental (WHA) da Subsecretaria de Assuntos Políticos do Departamento de Estado (DOS).
E tomará um chá de cadeira.