VEJA 8 – Opulência concreta
Detratores e admiradores de Haroldo de Campos costumam reduzir sua obra à poesia concreta. Mas uma coletânea póstuma mostra que sua produção é bem mais rica e variada: vai de versos engajados (e ingênuos) à mais extremada opulência verbal Nelson Ascher Fabiano Accorsi/Folha Imagem ACLAMADO, ATACADO, POUCO LIDO Haroldo de Campos ao lado de um […]
Detratores e admiradores de Haroldo de Campos costumam reduzir sua obra à poesia concreta. Mas uma coletânea póstuma mostra que sua produção é bem mais rica e variada: vai de versos engajados (e ingênuos) à mais extremada opulência verbal
Nelson Ascher
Fabiano Accorsi/Folha Imagem |
ACLAMADO, ATACADO, POUCO LIDO Haroldo de Campos ao lado de um busto do grego Homer |
Um dos poetas brasileiros mais famosos da segunda metade do século XX, Haroldo de Campos (1929- 2003) mal começou a ser de fato lido. A amplitude e a variedade de sua crítica literária se combinaram com a quantidade e a qualidade de suas traduções para lhe eclipsar a produção original.
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A produção poética final de Haroldo acaba de ser reunida em Entremilênios (Perspectiva; 256 páginas; 55 reais). A organização, iniciada pelo autor, foi concluída por sua viúva, Carmen de P. Arruda Campos. Os poemas, ilustrando o estilo maduro do poeta, retomam e desenvolvem, de maneira segura, elementos e temas que remontam a seu volume de estreia, O Auto do Possesso, de 1949. A identificação total de Haroldo com a poesia concreta soa ainda mais inadequada caso se considere que essa almejava a máxima brevidade, colocando-se como meta o poe-ma de uma palavra, enquanto a vocação inata do autor de Entremilênios o dirigia à opulência verbal.
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A escrita complexa e rebuscada de Haroldo não serve de desculpa à arrogância iletrada dos que, hoje em dia, se dizem vanguardistas, pois, se a obra dele é difícil de ler, a dos discípulos é somente ilegível. Aqui