Universitário custa DEZ vezes mais do que aluno da escola fundamental e média. Aonde isso nos leva?
– Os invasores como mercadoria– Qual é a moral dos incitadores?– Quanto custa um aluno da universidade?– Quanto custa um aluno do ensino fundamental e médio?– Como é na OCDE?– Quantos alunos por professor há na USP?– Quantos alunos por professor há na França?– Serra deve mudar o decreto?– Por que a tropa de choque […]
– Qual é a moral dos incitadores?
– Quanto custa um aluno da universidade?
– Quanto custa um aluno do ensino fundamental e médio?
– Como é na OCDE?
– Quantos alunos por professor há na USP?
– Quantos alunos por professor há na França?
– Serra deve mudar o decreto?
– Por que a tropa de choque NÃO deve agir
– Invasor só teria uma saída: a PM
Os estudantes que invadiram a USP, como tudo no capitalismo — até no nosso —, transformaram-se em mercadoria. É a poesia do modelo. Não seria difícil provar que a cultura da mercadoria é a base da nossa liberdade, ao contrário do que pretende o marxismo uspiano. Assim, seguindo a lógica da diferenciação, um grupo de vândalos que toma um prédio público no braço também pode ser adotado por parte da mídia que eles mesmos chamam de “burguesa”. Olha-se a gôndola do supermercado das opiniões e se pergunta: “Falta que produto?” E, então, se adotam os baderneiros como expressão de uma novidade. Viram um sabonete progressista.
Este texto também poderia ser contra mim, certo? Errado e por duas razões básicas:
1) fui o primeiro a dar bola para os Remelentos e as Mafaldinhas; não fiquei ajustando a minha opinião segundo a lei da oferta e da procura;
2) ao condenar a invasão, defendo o estado de direito. Quem acata como legítimo o ato dos estudantes está moralmente obrigado a dizer a que outros grupos sociais está reservado o direito (é direito, certo?) de tomar no braço o que julga lhes pertencer. Por que não os sem-terra, os sem-teto, a turma que invadiu Tucuruí? A exemplo do que pergunta o professor José de Souza Martins no Estadão deste domingo, por que um transgressor da lei merece ser abraçado por um comandante da Polícia Militar?
O pior de tudo é que o debate se faz — ou melhor: não se faz — ignorando-se, desde sempre, a lei e, na seqüência, mérito e números. Os leitores têm o direito de saber alguns dados. Todos os números abaixo são referentes ao ano passado:
– Orçamento da USP, Unicamp e Unesp: R$ 4.017.711.895,00
– Nº de alunos das três universidades: 156.041
– Custo médio por aluno/ano: R$ 25.747,80
– Orçamento da Secretaria de Educação para ensino
fundamental, médio e Educação para Jovens e adultos: R$ 12.278.232.300,00
– Nº de alunos atendidos: 5.231.001
– Custo médio por aluno/ano: R$ 2.347,21
– Orçamento do Centro Paula Souza
(ensino técnico e tecnológico) – R$ 374.921.000
– Nº de alunos atendidos: 115.636
– Custo médio por aluno/ano: R$ 3.242,25
Vejam que maravilha. O Estado de São Paulo gastou R$ 16.670.865.195,00 com educação no ano passado para atender 5.502.678 pessoas. E o que podemos ver?
– Os estudantes das três universidades representam 2,83% desse total, mas consumiram quase um quarto dos recursos;
– O aluno das universidades custa 10 vezes mais do que o aluno do ensino fundamental e médio;
– Os universitários são a própria expressão da concentração de renda que eles denunciam.
Os números são omitidos do debate porque não interessam aos mercadores pequeno-burgueses de rebeliões. Preferem usar como escudo a fantasia de decretos que agrediriam a autonomia universitária. Ainda que agredissem, qual seria o caminho natural, democrático, lícito? A justiça, ora essa. É o que devem fazer as pessoas que julgam ter seus direitos atingidos. Mas não. Os “progressistas” não gostam de números. Preferem urrar suas boas intenções, vender seu sabonete.
São Paulo comprometeu, no ano passado, 30,16% de tudo o que arrecadou com educação. A Constituição impõe, ao governo federal, um índice de 18%. Em relação ao PIB, o Brasil gasta com o setor mais do que o Japão e a Alemanha. A disparidade acima é grotesca. É claro que o ensino superior custa mais caro do que o fundamental e médio. Em qualquer lugar do mundo. Ocorre que, nos países da OCDE, essa diferença é de 3,2 vezes. Em São Paulo, vejam ali, passa de 10. Quando afirmo que estamos assistindo a uma rebelião de privilegiados, não estou tirando juízos do chapéu. As evidências gritam. Vão dizer que os dados não têm relevância porque, afinal, o custo da universidade inclui pesquisa, extensão, hospital universitário etc. Sei disso. Mas temos um parâmetro de comparação: os demais países. De resto, o hospital é parte do ensino: o pobre atendido é também matéria do aprendizado do aluno médico. Ou não é?
Os escândalos não param aí, não. Os remelentos e Mafaldinhas reclamam da falta de professores. Talvez seja verdade neste curso ou naquele. Problema da autonomia. Que se virem, já que pretendem ser um mundo à parte. A USP tem matriculados (mas não necessariamente freqüentando aula) 80.589 alunos para 5.222 professores. Mais uma vez, a vergonha nos corteja: 15,43 alunos por professor. Sabem qual é essa relação na França, a pátria da universidade e do iluminismo, que passou pelo maio de 1968? Um professor para cada 32 estudantes.
O que isso tem a ver com os decretos? Tudo. Estes são usados como pretextos da rebelião dos privilegiados que querem ainda mais privilégios. Esses números vergonhosos foram fabricados sob os auspícios de uma “autonomia” que foi confundida com “independência”. As universidades se pretendem um outro país. Ora, os prédios que faltam (eles dizem que faltam) são problema deles; os professores que não há, do mesmo modo, são uma dificuldade interna. O que o governo tem com isso? A única exigência nova foi o lançamento de gastos diário no sistema que acompanha a execução orçamentária. Governo e reitores já concordaram que, no mais, os gestores das universidades continuarão tão soberanos como sempre foram para remanejar seus gastos.
Então…
Então por que Serra não muda os decretos para deixar isso claro? Porque não pode e não deve — e espero que não o faça — ceder a práticas terroristas, à lógica dos seqüestradores. Primeiro o estado de direito tem de ser recuperado na USP. O resto se vê depois.
Tropa de choque
Agiu direito o governo federal diante da invasão de Tucuruí quando recorreu à Justiça para a reintegração de posse e despachou tropas para a usina no mesmo dia. Não parece que a esquerda tenha urrado, histérica, em sinal de protesto. Até onde li, houve um silêncio sepulcral. Já a “autônoma” Tia Suely Vilela demorou 12 dias para pedir o prédio de volta. Antes, ficou negociando a pauta dos baderneiros — inicialmente, com 13 itens; hoje, com 17. Se a Justiça exigir a desocupação, a tropa de choque vai entrar lá, e nem Serra poderá evitar.
Vocês já sabem a minha posição. Isso deveria ter sido feito no primeiro dia. Agora é tarde, já escrevi isso e até ilustrei com um poema de Constantino Kafávis. Agora, defendo que os invasores fiquem lá. Se possível, para sempre. Acho que é a reitoria que tem de mudar de lugar. Que vão ficando, que criem raízes. A minha sugestão é que Tia Suely retire o seu pedido de reintegração de posse e compareça para trabalhar. Vão bater nela? Vão lhe dar uns sopapos?
Correspondentes
Tenho muitos correspondentes na USP, inclusive na invasão. E os chefes sabem que o que aqui vai é verdade: o único plano que eles têm é a tropa de choque. Muitos estão decepcionadíssimos com a não-invasão. A aposta é que a Polícia Militar não seria muito violenta, só o bastante para render boas fotos e aplicar ao governo o desgaste político, que é o que se quer desde o começo. Alguns gaiatos que estão lá já perceberam a cilada em que caíram e não vêem a hora de voltar para casa. Mas precisam de um motivo, de um pretexto, nem que sejam algumas borrachadas.
A permanência, sem prazo e sem definição, expõe o ridículo da mobilização e da agressão à legalidade. Que fiquem. Eu mesmo só estou esperando a reitora retirar o pedido de reintegração de posse para desistir desse assunto. Tenho mais o que fazer do que dar atenção para maluquetes do PSTU, PSOL, PCO, Democracia Socialista (corrente do PT) e pterodáctilos afins. O que não significa desistir do tema “universidade”. Estamos no começo de uma jornada.
Eis aí como reage a “elite” de esquerda quando julga que um privilégio seu está sendo atingido — e o que é pior: não está. Vocês acham mesmo que o país fará um dia as tais reformas, aquelas que os jornais vivem cobrando? Inteligente é Lula: promove a maior transferência que já se viu de recursos públicos para o ensino privado, por meio do ProUni, mas os esquerdistas da universidade e da academia urram, histéricos, contra o governo de São Paulo.