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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Sim, existe amor em SP. Mas também existem os picaretas, os embusteiros, os… petralhas!

Este post começa com a reprodução de um verbete de dicionário. Pois é, leitores… Quando surgiu na capital paulista, no ano passado, o tal movimento “Existe Amor em SP”, tirei um sarrinho aqui. Era gato escondido com o rabo de fora. Estava na cara, ou no rabo, que era que gato. Tratava-se apenas de mais […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 06h16 - Publicado em 13 Maio 2013, 07h31

Este post começa com a reprodução de um verbete de dicionário.

Pois é, leitores… Quando surgiu na capital paulista, no ano passado, o tal movimento “Existe Amor em SP”, tirei um sarrinho aqui. Era gato escondido com o rabo de fora. Estava na cara, ou no rabo, que era que gato. Tratava-se apenas de mais um “movimento popular”, ou “organização espontânea”, ligada ao PT. Informação para o leitor que não é na cidade: o tal grupo se dizia “apartidário” e interessado apenas em impedir a eventual eleição de Celso Russomanno (PRB). Estranhei e ironizei porque não nasci ontem. Esse negócio de “movimento apartidário” contra um candidato em particular era coisa por demais suspeita, especialmente quando o dito-cujo, como era o caso, havia conquistado fatias do eleitorado tradicionalmente petistas. Assim, era evidente que atacá-lo beneficiava o nome petista na disputa, Fernando Haddad.

Criar grupos “apartidários” para intervir no debate público é uma prática que remete aos primeiros dias do partido. Conheço isso como a palma da mão. A rigor, a prática não difere muito da relação que a legenda mantém com os sindicatos que estão sob a sua orientação. Os sindicalistas, nesse caso, não estão principalmente dedicados à defesa da categoria que representam. Ao contrário: podem até lutar contra os interesses objetivos do grupo se, num dado momento, os interesses do partido o exigirem. O PT não está sozinho nessa prática. A UNE, por exemplo, desde a sua refundação, é um feudo do PCdoB. Os sucessivos comandos da entidade estão se lixando para os interesses dos estudantes. O PSOL, bastante presente nas universidades públicas, age do mesmo modo com os centros acadêmicos ou diretórios centrais que conquistam.

Com o advento das redes sociais, emprestar caráter “popular” àquilo que é partidária e ideologicamente orientado se tornou ainda mais fácil. Por quê? Porque a antiga militância, e sei bem do que falo, exigia tempo, dedicação, aplicação à causa. As reuniões só podiam ser feitas com a presença física dos mobilizados. Hoje em dia, não! Basta estar conectado à rede. Dez ou 15 profissionais do partido, pagos pra isso, conseguem criar o movimento de opinião na Internet e marcar uma concentração em algum ponto da cidade a que podem comparecer centenas e até alguns poucos milhares de pessoas. Ou por outra: era mais difícil arregimentar idiotas úteis no passado. Hoje em dia, é moleza.

Pois bem… O tal movimento “Existe Amor em SP” foi tratado pela imprensa paulistana — onde tinha muitos amigos e porta-vozes informais — como uma espécie de “nova voz da cidade”, como uma expressão genuína das ruas. É mesmo? No dia 6 de maio, o blog Política Paulistana, comandado pelo jornalista Diego Zanchetta, do Estadão, dava a seguinte notícia (em vermelho). Volto em seguida:

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“O prefeito Fernando Haddad (PT) levou para seu governo alguns dos jovens que organizaram no ano passado o Festival Existe Amor em SP, evento que levou cerca de 10 mil pessoas para a Praça Roosevelt, no centro paulistano. Na época, os integrantes da festa tinham como um dos bordões “Fora Russomano”, então segundo colocado nas pesquisas na disputa das eleições municipais, à frente de Haddad.
Para ser chefe de gabinete de Juca Ferreira, secretário municipal de Cultura, Haddad chamou Rodrigo Savazoni, um dos criadores da Casa de Cultura Digital e um dos principais organizadores do Existe Amor em SP. O prefeito também chamou integrantes de coletivos dedicados à cultura alternativa, como Matilha Cultural, Fora do Eixo e Voodoohop, para ter assentos no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e para conselhos da Secretaria Municipal de Direitos Humanos.
Pedro Alexandre Sanches, um dos agitadores do evento na Praça Roosevelt em 2012, hoje faz o blog oficial da Virada Cultural. Integrantes dos coletivos de cultura alternativa também vão participar das discussões sobre o novo Plano Diretor, que o governo petista deve encaminhar à Câmara Municipal até o final do ano. Alê Yousseuf, também agitador do Existe Amor em SP, é o curador da virada.”
(…)

Voltei
Há uma correção objetiva a fazer. À época, Russomanno estava em primeiro lugar nas pesquisas de opinião, e o tucano José Serra estava em segundo. Haddad aparecia em terceiro. Eis aí. O post publicado no blog dá a entender que todo mundo foi cooptado. Neste sábado, Álvaro Pereira Júnior, colunista da Ilustrada, escreveu um artigo a respeito, ironizado essa cooptação. Reproduzo trecho. Comento depois.

Antigamente era o poder que cooptava os jovens, mas neste caso acho que aconteceu o contrário.
Falo da ocupação em massa de cargos na área cultural da Prefeitura de São Paulo por militantes do “Existe Amor em SP”.
Esse movimento, alegadamente apartidário, surgiu na época das eleições municipais. Em tese, apenas combatia a candidatura de Celso Russomanno, sem apoiar ninguém. Em outubro passado, juntou 10 mil pessoas na praça Roosevelt, “para defender a cultura”.
A notícia da adesão foi dada pelo blog “Política Paulistana”, assinado por Diego Zanchetta no portal do “Estadão”. O contra-ataque à nota, como sempre acontece nessa turma superconectada e com bastante tempo livre, foi imediato e em bloco.
Vários dos nomes citados –e outros que trafegam na mesma órbita, que se pode chamar de “indie estatal”– escreveram longuíssimos textos na internet atacando furiosamente a reportagem. Fazem parte desse grupo militantes “full time”, jornalistas, empresários, agitadores culturais etc. Detalhe curioso: nenhuma informação foi desmentida.
A bronca toda é porque eles simplesmente acham muito bossa nova, muito natural, que os participantes de um movimento “apartidário” sejam, poucos meses depois, chamados a trabalhar e/ou colaborar na administração petista.
Que um repórter se atreva a divulgar o fato é, para eles, mais um ataque traiçoeiro, mais uma manipulação da “imprensa golpista”.Percorri o “Política Paulistana”. Pode ser ingenuidade minha, mas não enxerguei nenhum viés antipetista. É um blog sobre administração municipal, com algumas notas favoráveis e outras desfavoráveis à prefeitura. Nada fora do normal.
Entro em terreno perigoso. Se disser que, lendo o “Política Paulistana”, conheci boas iniciativas do prefeito Fernando Haddad, corro o risco de ser chamado de “vendido”, “petralha”. Se eu lembrar que a “Virada Cultural” (evento em que esse pessoal recém-admitido mergulhou e do qual já parece dono) foi criado pelo ex-prefeito José Serra, vou ser carimbado como “direitista”, “reaça”.
Tentando sair desse debate maniqueísta, queria chamar a atenção para outros pontos.
A entrada do pessoal do “Existe Amor em SP” para a administração Haddad vai muito além de arrumar uma boquinha no serviço público. Até porque vários cargos são de participação voluntária e não remunerados. Trazem mais influência que retorno financeiro.
O que ela sinaliza, a meu ver, é a cristalização, também em São Paulo, da ideologia digital-popular das administrações de Gilberto Gil e Juca Ferreira no Ministério da Cultura. Na fachada, um discurso prafrentex: software livre, videogame também é cultura, Creative Commons e sua visão libertária de direitos autorais. Mas, no alicerce, impera a tese de que não existe vida cultural fora do guarda-chuva estatal ou paraestatal.
(…)

Comento
Tanto Zanchetta como Pereira Júnior cometem um equívoco essencial, embora trabalhem com as informações corretas. Não houve “cooptação” de nenhuma natureza porque nunca existiu, nesse caso, movimento espontâneo. Desde o início, tratava-se de uma atuação de caráter partidário, que assume agora o tom oficial. Os que estão indo para o governo e aparelhos estatais e paraestatais eram os criadores reais de um movimento virtual. Aqueles supostos 10 mil que compareceram à praça eram só a massa de manobra. Essa gente é rodapé da história desde quando era estimulada a enfrentar a polícia do czar, entenderam?

O PT não está se apropriando, sei lá como dizer, do frescor da juventude ou tentando aprisionar nos escaninhos da burocracia a cultura viva da cidade… Besteira! Está apenas pagando o que deve àqueles que estavam, desde sempre, a seu serviço. O movimento “Existe Amor em SP” nasceu tão independente quanto a ONG Rede Nossa São Paulo, comandada pelo lulo-petista Oded Grajew. Apenas se manifestava de outro modo.

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Notem que transcrevi com destaque parte do texto de Pereira Júnior. Ele não quer ser maniqueísta e parece considerar que as palavras “vendido” e “petralha” são empregadas por aqueles que compõem um dos extremos do debate. No outro, estariam os que acusam a existência de “direitistas” e “reaças”. Epa! Mais respeito com um vocábulo que já foi parar em dicionário (Grande Dicionário Sacconi da Língua Portuguesa – Editora Nova Geração). Ele tem sentido, como se vê lá no alto, bastante definido.

Não basta ser simpatizante do PT ou mesmo defender ações de administrações ligadas ao partido para ser um petralha. É preciso também ser um defensor de métodos desonestos. Enganar pessoas de boa-fé, dizendo-se apartidário e interessado apenas no bem da cidade, quando se está fazendo política em benefício de um partido, é, sem dúvida, coisa típica de petralhas.

Noto — uma informação que acrescento à sabedoria política de Pereira Júnior — que os que tacham seus adversários de “direitistas” não são opostos simétricos dos que acusam a existência dos “petralhas”. A razão é simples: aqueles primeiros costumam estar aboletados na máquina estatal, mamando nas tetas do governo. Estes outros não! São pessoas livres, que recusam a trapaça política. Não raro, quem acusa um opositor de “direitista” está apenas tentando ganhar um debate na base do berro e do preconceito. Já os que se opõem aos “petralhas” se opõem, reitero, à mentira, à roubalheira e à corrupção tomadas como método de resistência política. De resto, Álvaro, os que se opõem aos “petralhas” o fazem debaixo de seu risco; os que andam por aí a combater “direitistas” contam com farto financiamento oficial.

Saber que os petralhas existem como força organizada nos protege de determinados equívocos, como ver, por exemplo, cooptação onde há, isto sim, expressão de um método, que não é novo, de captura do estado.

Sem dúvida, existe amor em São Paulo. E não há dúvida de que existem picaretas em São Paulo — petralhas legítimos!

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