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PSDB deveria é estar atraindo quadros em vez de perdê-los para o PSD

Há algo de aparentemente espantoso na razoável facilidade com que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, conseguiu liderar a criação do PSD; o partido está em vias de se transformar na terceira força na Câmara dos Deputados, à frente do PSDB. Há críticas que são mais fáceis do que propriamente esclarecedoras. Vamos ver. O […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 10h30 - Publicado em 12 out 2011, 06h45

Há algo de aparentemente espantoso na razoável facilidade com que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, conseguiu liderar a criação do PSD; o partido está em vias de se transformar na terceira força na Câmara dos Deputados, à frente do PSDB. Há críticas que são mais fáceis do que propriamente esclarecedoras. Vamos ver.

O núcleo duro da nova legenda nasce de uma crise do DEM, como é de todos sabido. A condução desastrada e desastrosa de divergências internas não deixou a líderes como o próprio Kassab, Guilherme Afif Domingos (SP), Jorge Bornhausen (SC) ou a senadora Kátia Abreu (TO) outra alternativa. Não é a primeira vez que um grupo dissente decide fundar outra legenda: assim foi com o próprio DEM (o então PFL derivou do antigo PDS) e com o PSDB, que se descolou do PMDB. Mas por que pareceu tão fácil? A resposta, acreditem, está no PSDB. Já chego lá.

No rol das críticas fáceis, está a acusação de que Kassab reuniu oposicionistas com sede de governismo – parcela importante do PSD, de fato, tem origem na oposição. Mas o partido – disposto a apoiar o que houver de bom em qualquer governo e a rejeitar o que for ruim!!!…- também atraiu parlamentares da base. Kassab se revela, assim, um hábil articulador. Não foram poucos os que apostaram que daria com os burros n’água. Por enquanto ao menos, seu partido está fora do governo, e não parece haver, num horizonte muito próximo, a possibilidade de que possa se aproveitar de benesses federais.

As circunstâncias não eram, ou não são, exatamente favoráveis ao prefeito. Ele não chega a fazer uma administração aplaudida. Está longe de ser uma unanimidade ou quase, embora eu esteja entre aqueles que consideram exageradas e, muitas vezes, fora do tom as críticas que lhe são feitas. Mas esse é outro problema: o fato inconteste é que não é um desses queridinhos do jornalismo engajado, como Fernando Gugu Dadá Haddad, para citar um exemplo, o incompetente mais incensado da história republicana. Ainda no rol das críticas fáceis, pode-se inferir: “Também, com a máquina da Prefeitura na mão…”

Olhem cá: o PSDB está no poder em oito estados, governa praticamente a metade da população brasileira e quase 60% do PIB. A “máquina” administrada pelos tucanos é muitas vezes maior do que aquela à disposição do prefeito. É preciso considerar que isso tudo constitui uma posição de poder. Também um oposicionismo forte e estruturado confere prestígio. Chega a ser espantoso que o PSDB, em vez de atrair novas lideranças para o partido, esteja também na condição de quem cede quadros para o PSD.

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“Ah, no Brasil, ninguém quer ser oposição!” Como não? Muitos brasileiros, quase 44 milhões, escolheram votar no PSDB no segundo turno da eleição presidencial – ou contra o PT, não importa. O povo tem coragem de se opor, como deu para perceber. E conferiu aos tucanos um poder formidável nos estados. Pergunto-me: como é que o PSDB não conseguiu se transformar num pólo de atração de apoios? Ao contrário! O partido passou a ser, também ele, um fornecedor…

Por que é assim? Porque falta uma mensagem mais clara do partido. Neste primeiro ano de governo Dilma, que “saber oposicionista” gerou o comando dos tucanos, a ponto de poder se colocar como referência no debate e como uma futura alternativa de poder? Muito pouco! Os desmandos são denunciados, sim – e isso está correto -, mas não se vai muito além disso.

Num texto publicado no dia 26 de setembro, demonstrei como Dilma é “ruim de serviço” listando algumas ineficiências do governo. Só para lembrar:
1 – Foi a gerentona no governo Lula e assistiu impassível ao estrangulamento dos aeroportos. Nada fez! Ou melhor, fez, sim, uma coisa muito ruim: bombardeou as propostas de privatização. Depois teve de correr atrás do capital privado, na bacia das almas.
2 –
O marco regulatório que inventou para a privatização das estradas federais enganou o Elio Gaspari direitinho – e todos os “gasparzinhos” que tentam imitá-lo–, mas não conseguiu fazer o óbvio: duplicar rodovias, melhorar o asfalto, diminuir o número de vítimas. Cobra um pedágio “barato” para oferecer serviço nenhum. Ou seja: é caro demais! Um fiasco completo!
3-
O Brasil foi escolhido para a sede da Copa do Mundo há 47 meses. Em apenas nove, de abril a dezembro de 2010, ela esteve fora do governo. Era a tocadora de obras de Lula e é a nº 1 agora. E o que temos? Seu governo quer uma espécie de AI-5 das Licitações para fazer a Copa. Quanto às obras de mobilidade, Miriam Belchior entrega o jogo: melhor decretar feriado.
4 –
Na economia, há um certo clima de barata-voa. Posso não compartilhar das críticas, a meu ver exageradas, ao corte de meio ponto nos juros estratosféricos, mas isso não quer dizer que eu note um eixo no governo. A turma me parece até um tantinho apavorada. A elevação do IPI dos carros importados é um sinal de que estão seguindo a máxima de que qualquer caminho é bom para quem não sabe aonde vai. A Anfavaea foi mais eficiente no lobby. Cumpre aos outros setores fazer também o seu chororô. O único que vai perder é o consumidor…
5 –
Na seara propriamente institucional, Dilma deixa que prospere o debate da reforma política como se ela não tivesse nada com isso. Parece Obama referindo-se aos políticos como “o pessoal de Washington”. Ela poderia dizer: “O pessoal de Brasília”…
6 –
Abaixo, Ideli Salvatti, ministra das Relações Institucionais, afirma que o governo vai tentar, sim, um novo imposto para financiar a Saúde – a presidente prometeu de pés juntos que o governo não recorreria a esse expediente.
7 –
As promessas na área social para seu primeiro ano de governo naufragaram, como se vê acima. Não vai entregar as UPAs, as quadras, as casas, os postos policiais…

Como é que o PSDB não consegue transformar essas falhas evidentes num discurso estruturado, apresentando-se como alternativa de poder? Ao contrário: contratou uma pesquisa a peso de outro que só contribuiu para depor contra a reputação do próprio partido. O que estou afirmando, em suma, é que poucas coisas revelam com tanta clareza a falta de horizontes do PSDB como a criação do PSD. Com muito pouco a oferecer – nem mesmo o tão precioso tempo de TV -, Kassab conseguiu criar um partido que já nasce entre os grandes. Com uma máquina gigantesca ainda nas mãos, o PSDB continua dedicado a seu esporte predileto: caçar tucanos…

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