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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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PARA LULA: QUEM DISSE QUE A DEMOCRACIA ACEITA TUDO? ELA NÃO ACEITA, POR EXEMPLO, DEBATER O SEU FIM!

Assisti ontem à entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a jornalistas da Band, no programa Canal Livre. Nada de muito novo. Era o “cara” de sempre, naquela já aborrecida rotina. Em suma, ele afirmou que “nunca antes na história deste país (…)” E aí vocês preencham o espaço livremente. Quero destacar a parte […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 15h36 - Publicado em 5 abr 2010, 06h41

Assisti ontem à entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a jornalistas da Band, no programa Canal Livre. Nada de muito novo. Era o “cara” de sempre, naquela já aborrecida rotina. Em suma, ele afirmou que “nunca antes na história deste país (…)” E aí vocês preencham o espaço livremente. Quero destacar a parte de sua fala que se refere aos meios de comunicação e à imprensa. Ao realizar, no dia 1º de março, o “1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão”, de que participei, o Instituto Millenium talvez não tivesse idéia do quão agastado o governo ficaria. Embora o encontro tenha sido aberto por um então ministro de Lula, Helio Costa (Comunicações), e fechado por um homem de sua inteira confiança — mas que deve ser mantido longe de jardineiros: Antônio Palocci, um dos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff à reeleição de Lula!!!

Não! Mesmo assim, o governo não gostou! Lula se referiu ao seminário do Millenium como um encontro de “jornalistas e empresários”, o que é, para começo de conversa, falso. O Millenium tem financiadores privados e, à diferença das “ONGs governamentais” (esse misto de jabuticaba e besteira que só existe no Brasil), não aceita dinheiro público. Não havia “empresários” nas mesas de debate, só jornalistas, professores e políticos. Otavio Frias Filho, da Folha, foi o único “acionista” de empresa de comunicação a falar — mas o fez, claramente, como homem de redação. E não foi para escamotear nada, ou não falaria, certo? Todo mundo sabe quem ele é. A rigor, esteve entre os menos críticos do dia ao papel desempenhado pelo governo Lula no setor. Mas o presidente fala num encontro de “jornalistas e empresários” porque pretende, assim, atribuir as críticas a uma espécie de conspiração articulada de interesses contra, sei lá, o “povo popular”…

Lula se disse estarrecido com algumas coisas que ouviu lá… Se ouviu o que eu disse — já publiquei os vídeos aqui —-, certamente se sentiu foi relatado. Segundo o presidente, os que apontam ataques do governo contra a liberdade de expressão estão vendo “fantasmas”. E defendeu as tais conferências de botocudos — e ele evidentemente as aprecia porque discursa em todas; em duas delas ao menos, fez campanha eleitoral ilegal.

Lula respondia como se as tais conferências e o Plano Nacional de Direitos Humanos, também saído de um encontro dessa natureza, não pregassem abertamente a censura à imprensa e o controle estatal dos meios do comunicação. Para ele, tudo é muito simples: se as pessoas são contrárias àquelas propostas, que se organizem, participem do fórum dos petistas e tentem aprovar a sua proposta — elogiou a direção da Band, que participou da Conferência de Comunicação. Pois é…

Participou e perdeu. O que Lula deixa de informar é que essas conferências já são manipuladas na sua origem. Ao se estabelecer a sua composição, faz-se  o filtro. Por que a maior parte das empresas de comunicação caíram fora da Confecom? Porque perceberam que estavam apenas coonestando uma farsa dos militantes petistas, que tinham maioria para aprovar os documentos estúpidos que aprovaram. Queriam as empresas no debate para endossar a sua pantomima “democrática”.

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Violência
Fazendo coro  a boçalidades recentes ditas por Marco Aurélio Top Top Garcia, Lula  ligou a violência a programas de televisão e deixou entrever uma suspeita: para ele, as TVs deveriam ter uma espécie de função didático-político-cívico-moralizadora, mais ou menos, suponho, como se fazia na antiga URSS, nos países da Cortina de Ferro e se faz ainda hoje em Cuba, com os resultados fabulosos que conhecemos. Entre culpar a desídia do governo pelos 50 mil homicídios que há por ano no Brasil e culpar a TV, Lula escolheu a TV. Segundo ele, é preciso tirar os “enlatados” (que linguagem velha!!!) e pôr no lugar “coisas estimulantes”. Já sei! Que tal uma novela com os sem-teto da Bancoop?

Vai ter de debater
Ao ser lembrado que o governo tentou, sim, controlar o jornalismo também por meio do Conselho Federal de Jornalismo, Lula respondeu que era uma iniciativa dos próprios jornalistas. Uma ova! Quem defendia a proposta era um braço do PT chamado Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj — chamada por ele de “Fenarj”). A diretoria de tal entidade não conseguiria distinguir uma redação de jornal ou revista de um pedaço de presunto. Nunca ninguém ali redigiu um lead na vida. Lula deveria ter lembrado que a Fenaj não só era a favor da proposta como se oferecia para comandar o conselho…

Segundo o presidente, quem “quiser construir vai ter de debater”. Parece só uma obviedade? Não! Trata-se de um surto autoritário! Por que eu “tenho” de debater numa instância que sei controlada por um partido, cuja representatividade é nenhuma? “Tenho” porcaria nenhuma! Em nome da democracia, o que faço é denunciar esses embusteiros. Ora, já comentei aqui e num artigo na VEJA a fala de um ongueiro segundo quem o Plano Nacional-Socialista de Direitos Humanos é democrático “porque foi debatido por 14 mil pessoas”!!! Como? Quatorze mil pessoas? Um vereador precisa de 100 mil votos em São Paulo… Vão catar coquinho!!!

Não! Ninguém tem de se submeter a esses caras, não! Aliás, a grande questão da democracia no Brasil e como resistir às investidas dessa gente que pretende assaltar as liberdades públicas. Não representam ninguém! Representam seus próprios interesses, seus ressentimentos, suas mesquinharias, sua ideologia embolorada, sua incompetência.

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Lula encerrou a questão afirmando que três setores podem controlar a imprensa: “Na TV, os telespectadores; no rádio, os ouvintes; no jornal, os leitores”. Está certo! Então que se mude logo o tal plano de direitos humanos e que se jogue no lixo a produção das tais conferências. Atenção: a fala de Lula parece perfeita, mas ainda é manca. Ccomo norte, o que ele disse acima está certíssimo. Além de se descartar aquela bobajada autoritária, é preciso parar de premiar o jornalismo — empresas e jornalistas — amigo. Que o telespectador, o leitor e o ouvinte façam as suas escolhas.

Encerrando
Alguém andou dizendo uma cascata subuspiana para Lula, e ele parece ter gostado. É mais ou menos assim: “A democracia não se faz de silêncios (huuummm…), mas do debate, do embate etc”. Tudo muito certo! MAS A DEMOCRACIA NÃO SE FAZ ESPECULANDO SOBRE DIREITOS FUNDAMENTAIS, ASSEGURADOS PELA CONSTITUIÇÃO. A democracia aceita debater tudo, senhor Luiz Inácio Lula da Silva, MENOS A SUA PRÓPRIA EXTINÇÃO, o senhor me entende? Claro que me entende!

Fazer chacota, por exemplo, do TSE num comício ilegal não é um barulho democrático, mas só uma algaravia protoditatorial. É o que eu lhe diria, para o seu comentário, na entrevista que não faremos.

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